O que não querem que você saiba sobre a política
bacabalense, ou o desemprego em massa como projeto político
Kraken é aquele monstro mitológico, que com seus
enormes tentáculos envolve e afunda as embarcações. Talvez ele tenha sido
imaginado com base na lula colossal, animal este que pode ultrapassar os vinte metros. Contudo, o
alcance dos tentáculos desses moluscos gigantes não chega nem perto daquele da
Prefeitura e da Câmara de Bacabal, que envolvem milhares de lares espalhados
pela cidade. Estima-se a existência de até 4.000 cargos de indicação política
em nossa cidade, que vão dos secretários aos vigias de poço nos povoados. Entre
esses extremos, estão dezenas de funções e milhares de pessoas, que assim
conseguem seu sustento.
Quanta generosidade, não? Até seria, acaso não houvesse
uma contrapartida para estas pessoas enroladas ou comissionadas nos “tentáculos
do poder”. No caso, devem apoiar, incondicionalmente, alimentar os krakens
bacabalenses, que são seus “politiqueiros”. Ai de quem falar mal ou ter com o
inimigo: a patrulha político-ideológica logo chega e demite.
Mas, é possível furar esse cerco, cabendo primeiro entender
a lógica do Kraken, que explica como, em Bacabal, chegamos ao fundo do poço e
porque e como tudo se mantém como está, após cada eleição e a alternância entre
zés e joões. Conforme o desejo e projeto “krakento”, a cidade está social e
economicamente estagnada, afinal, esses seres abissais se alimentam da pobreza
e ignorância, e não podem deixar que suas presas prosperem, pois daí podem almejar
a liberdade. Babacal não gera empregos, e muitas famílias se obrigam a se
deixar envolver pelos “tentáculos do poder” de um ou outro, na esperança de um
salário, nem que seja dividindo-o com outras pessoas, cada uma trabalhando
uma parte. Ou seja, enquanto a sociedade
não tem emprego, a Prefeitura e Câmara acomodam milhares, desde que apoiem seus
gestores, cujos longos tentáculos e ventosas afundam toda a cidade na
estagnação socioeconomica.
Nas eleições, os krakens saem das profundezas de seus
gabinetes e voltam a falar bonito, emocionar, dizer que ninguém que está em
suas passeatas está recebendo alguma coisa, que é tudo por ideal e que agora
sim tudo irá melhorar. Pura balela que, nós, suas vítimas, precisamos nos deixar
envolver para tentar um ganha pão. Ao menos, as eleições geram empregos temporários
e a perspectiva de cargos futuros. Não podemos sequer dizer que, até aqui,
perdemos oportunidades de erradicar esses monstros, pois mudaram alguns nos
órgãos públicos, mas não o apetite insaciável dos krakens pelo poder e a forma
de usar seus tentáculos sobre nós. Promessas, mais promessas. Rostos já
conhecidos ou novos, mas práticas velhas, as mesmas de sempre. Nada de novo sob
o sol, só buracos que aumentam, escolas que abrem cada vez mais tarde, jovens
corpos assassinados se acumulando nos bairros e o atendimento na saúde cada vez
mais precário. Saneamento básico? Cada vez mais uma distante miragem.
Diante desse cenário, do mais do mesmo, muitas e muitos
desistiram de acompanhar as peças que se movimentam no tabuleiro político
municipal, ou “krakolândia”, restringindo sua participação às eleições e à
expectativa de com elas arrumar um bico. Zé daqui, João dali, coronel de acolá,
um quarto que surge sabe-se lá de onde e arruma laranjas para lhe representar.
Ao fim e ao cabo, reproduz-se o que todas e todos já conhecem: o toma lá dá cá,
ou os envolventes “tentáculos do poder”. Certamente, o último responsável não é
o povo, que necessita trabalhar e comer, mas sim os krakens, que o mantém
aprisionado.
Nossos pretensos salvadores pecam, pois repetem os
mesmos erros, como os que antecederam Teseu no Labirínto de Minos, que
esqueciam de levar um fio para se guiar no lar do Minotauro. Mas, afinal, como
derrotar esses monstros e que fio é esse? Seguramente, não é pela mesma via desses
falsos heróis, derrotados de antemão, pois se filiam a qualquer partido de
esquina ou de gaveta, candidatando-se e se apresentando como redentores, como
se fosse a pessoa, e não a agremiação partidária que importasse. Em suas
campanhas, e com nosso apoio descuidado, esses idiotas úteis ou “heróicos
candidatos” só acumulam os votos suficientes para reeleger os krakens filhotes
(vereadores) de sempre, que apoiam suas versões maiores para a prefeitura.
Para cortar os tentáculos do poder, o fio certo não é
apostarmos em uma pessoa ou outra, mas sim em um partido coeso, independente,
que não se deixe envolver. Uma agremiação que faça política no cotidiano para
elevar a consciência da população e que, eleja quem eleger, esteja representado
e gerindo coletivamente os mandatos, inclusive chamand o povo para decidir
junto. Esse grupo precisa se fortalecer para combater os krakens. Para isso, precisa
de uma sociedade consciente e organizada que entenda a lógica do poder e se sinta
representada por esse partido político no sentido estrito do termo, de união em
torno de um programa, e não dos interesses privados dos que o integram, como as
quadrilhas que usam seus longos tentáculos para envolver e manipular quase
todas as legendas partidárias da cidade, exceto o recém-fundado PSOL, pois este
é mantido por autofinanciamento de seus filiados e não tem o menor interesse em
sequer dialogar com krakens.
Se a exceção confirma a regra e valida o senso comum
(“são todos iguais”), ao mesmo tempo ela oportuniza uma possibilidade de
mudança. Se a desgraça social é gerada pelos krakens e mantida por todas e
todos, sua contrapartida, a justiça social, também é uma construção coletiva,
fruto do esforço comungado de muitas e muitos que têm sede de justiça. Não
podemos perder a esperança e julgar sem conhecer. Até que se prove o contrário,
vamos acrescentar o “quase” à sentença “são todos iguais” para não cometermos
suicídio político coletivo, matando a possibilidade da mudança, daquela que
botará abaixo toda essa odiosa estrutura que nos prende. Precisamos, devemos,
nos organizar e lutar, ou apoiar o partido alternativo, mesmo que sigilosamente
quando necessário para não sofrermos perseguições, para que vigorem também aqui
os princípios da gestão pública, sendo estes o horizonte comum. Falar em
impessoalidade, legalidade, transparência, eficiência e moralidade na gestão não
é utopia, mas fazer a lei ser cumprida e uma possibilidade que precisamos
viabilizar coletivamente ou, então, só mesmo os krakens, que ao mesmo tempo nos
mantêm na miséria e alimentam os envolvidos em seus tentáculos. A hora desses
seres abissais já passou. É sim possível qualificar os critérios de contratação
e garantir empregos por meio de nossa livre iniciativa popular, amparada por
uma prefeitura que capacite, emancipe, ao invés de envolver e prender as pessoas.
É promover concursos e estimular o cooperativismo, o empreendedorismo solidário
e coletivo, a qualificação profissional da população por meio de parceria com
SENAI, SENAC, Associação de Comerciários, Industriários e Agricultores.
Mas, querer emancipar a população só pode ser objetivo
de um partido seguro de seu programa solidário, ele próprio com vontade e
independência política. A escolha é de cada uma e um. De um lado, teimar em
generalizar e matar o futuro, justificar que se tudo é assim mesmo não precisa
nem pode haver mudanças, e assim se alimentar da sobra dos krakens enquanto
apoia a continuidade de sua política perversa, referendando campanhas
milionárias e práticas clientelistas e patrimonialistas, ao custo da saúde e
educação públicas e do futuro coletivo. De outro lado, a aposta ousada na
conscientização e organização, pegando as rédeas do porvir em nossas mãos,
tratando a política como coisa pública, com base nos princípios constitucionais
de gestão. Mandemos os krakens para o abismo, assumindo essa construção e
conscientização política como tarefa diária e coletiva, integrando ou apoiando
o partido que revela a lógica desses seres abissais e, verdadeiramente,
dispõe-se a superar seu domínio na política bacabalense, cortando os tentáculos
do poder.
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