Apesar de toda a importância e
cuidado envolvidos na gestação, a violência obstétrica está mais banalizada do
que imaginamos. É um fenômeno nacional, que ocorre também em Bacabal afetando
as mulheres nos diferentes períodos da gestação, desde esta até o pré-parto,
parto e puerpério, ou em situações de abortamento. São condutas abusivas
praticadas por profissionais de saúde, como agressões verbais, físicas ou
psicológicas, que afetam a autonomia das mulheres em suas escolhas e provocam
dor desnecessária, sendo ainda uma das causas comuns de mortalidade materna e
neonatal. Ou seja, são abusivos os gritos, ameaças, supostas piadas da equipe
de saúde, além da coerção ou não consulta para a realização de procedimentos
que a gestante não deseja, como episiotomia ou introdução de ocitocina
sintética para acelerar o parto.
Em Bacabal, somente em janeiro
de 2020, registramos dois casos, um deles testemunhado diretamente por uma
psolista presente no Materno Infantil. Leia a seguir seu relato:
“Ontem passei a noite com
uma amiga no materno infantil de Bacabal. Ela estava com dores, mas ainda não
estava em trabalho de parto. Estávamos numa sala onde ficam as mulheres em
estágio de pré-parto. Lá estava uma adolescente de 15 anos, aos gritos, com uma
senhora que estava sendo paga para acompanhá-la. Essa menina gritava tanto
gente. Eu nunca tinha ouvido gritos tão desesperadores. Ela sentia algo
descendo entre as pernas. Chamamos as técnicas de enfermagem e uma veio. Ao
vir, disse: “- Não tem nada descendo. Mulher, para de gritar! Isso só vai
piorar. Eu sei que é ruim, mas não grita”. Eram duas horas da madrugada. Ou
seja: a bonitona das tapiocas queria dormir. Dissemos à jovem que, se quisesse
gritar podia gritar até não aguentar. Bom, ela continuou aos gritos e, por
volta das seis horas, estouraram a bolsa. Às 10:30 levaram ela. Estava
dilatada, mas estava assustada e com medo, não conseguia deixar as pernas
abertas para a bebê passar. Com isso, cortaram a menina (anestesiaram e fizeram
episiotomia). Daí, ao apertar a barriga dela para a criança descer (procedimento
ilegal), a menina tirou forças do inferno/céu e deu um tapa na cara de uma das
técnicas. No fim, quando estavam prestes tirar a bebê (por via vaginal) a
menina de 15 anos já não tinha forças e desmaiou. Desmaiou por falta de
paciência e empatia com o seu corpo e filha, em um procedimento extremamente
delicado e inesquecível. Estou perplexa com a falta de empatia com as
parturientes e bebês na cidade de Bacabal.”.
No outro caso, do qual
tomou conhecimento uma militante do PSOL, a parturiente, de dezesseis anos,
chegou com três centímetros de dilatação e, quando mandaram uma enfermeira
estagiária fazer um toque, ela disse que ainda estava com dois centímetros.
Tempos depois, com as dores aumentando, foi novamente solicitada a presença da
enfermeira, que avisou à acompanhante que se sua filha continuasse chamando
“toda hora”, “ela iria atender com ignorância”, pois tinha mais o que fazer.
Quando voltou, fez um exame de toque com tanta força que a paciente quase
desmaiou de dor, constatando que já estava com nove centímetros de dilatação.
De forma arbitrária, foi impedido que a mãe entrasse com sua filha na sala de
parto, sendo o procedimento realizado por estagiárias, pois o médico,
supostamente, estava na hora do seu descanso, recusando-se até em costurar a
paciente.
A situação é grave e intolerável, mas possível evitar. Para prevenir a violência obstétrica, primeiramente, devemos nos
informar a respeito (há diversos sites que falam detalhadamente sobre o assunto
e sobre parto humanizado – nosso objetivo aqui é tão somente chamar a atenção
para o problema). Precisamos, também, partilhar as informações com quem estará
presente no pré-natal e no momento do parto, quando a mulher está mais frágil
para resistir a tratamentos abusivos. Outra medida, muito útil, é elaborar um
plano de parto (há vários modelos na internet), prevendo o que a paciente
deseja ou não de procedimentos, e levar para assinatura prévia e tomada de
conhecimento dos responsáveis pelo local onde ocorrerá o nascimento.
Se você que está lendo já
passou por isso ou conhece alguém que relatou situação análoga, infelizmente,
não foi um caso isolado. Ao menos, você não está sozinha. Pode nos procurar, ou
ir diretamente à Defensoria Pública, a fim de que sejam tomadas as medidas
jurídicas cabíveis. O importante é estarmos conscientes, unidas, em movimento,
entendendo e defendendo o direito à vida, à saúde e a um tratamento digno. Não
podemos mais tolerar abusos, sendo necessário mudar a cultura que banaliza as
violações. Vem conosco, organize-se e lute!