quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Violência obstétrica: basta de abusos também em Bacabal. Tratamento digno Já!



Apesar de toda a importância e cuidado envolvidos na gestação, a violência obstétrica está mais banalizada do que imaginamos. É um fenômeno nacional, que ocorre também em Bacabal afetando as mulheres nos diferentes períodos da gestação, desde esta até o pré-parto, parto e puerpério, ou em situações de abortamento. São condutas abusivas praticadas por profissionais de saúde, como agressões verbais, físicas ou psicológicas, que afetam a autonomia das mulheres em suas escolhas e provocam dor desnecessária, sendo ainda uma das causas comuns de mortalidade materna e neonatal. Ou seja, são abusivos os gritos, ameaças, supostas piadas da equipe de saúde, além da coerção ou não consulta para a realização de procedimentos que a gestante não deseja, como episiotomia ou introdução de ocitocina sintética para acelerar o parto.

Em Bacabal, somente em janeiro de 2020, registramos dois casos, um deles testemunhado diretamente por uma psolista presente no Materno Infantil. Leia a seguir seu relato: 

“Ontem passei a noite com uma amiga no materno infantil de Bacabal. Ela estava com dores, mas ainda não estava em trabalho de parto. Estávamos numa sala onde ficam as mulheres em estágio de pré-parto. Lá estava uma adolescente de 15 anos, aos gritos, com uma senhora que estava sendo paga para acompanhá-la. Essa menina gritava tanto gente. Eu nunca tinha ouvido gritos tão desesperadores. Ela sentia algo descendo entre as pernas. Chamamos as técnicas de enfermagem e uma veio. Ao vir, disse: “- Não tem nada descendo. Mulher, para de gritar! Isso só vai piorar. Eu sei que é ruim, mas não grita”. Eram duas horas da madrugada. Ou seja: a bonitona das tapiocas queria dormir. Dissemos à jovem que, se quisesse gritar podia gritar até não aguentar. Bom, ela continuou aos gritos e, por volta das seis horas, estouraram a bolsa. Às 10:30 levaram ela. Estava dilatada, mas estava assustada e com medo, não conseguia deixar as pernas abertas para a bebê passar. Com isso, cortaram a menina (anestesiaram e fizeram episiotomia). Daí, ao apertar a barriga dela para a criança descer (procedimento ilegal), a menina tirou forças do inferno/céu e deu um tapa na cara de uma das técnicas. No fim, quando estavam prestes tirar a bebê (por via vaginal) a menina de 15 anos já não tinha forças e desmaiou. Desmaiou por falta de paciência e empatia com o seu corpo e filha, em um procedimento extremamente delicado e inesquecível. Estou perplexa com a falta de empatia com as parturientes e bebês na cidade de Bacabal.”.


No outro caso, do qual tomou conhecimento uma militante do PSOL, a parturiente, de dezesseis anos, chegou com três centímetros de dilatação e, quando mandaram uma enfermeira estagiária fazer um toque, ela disse que ainda estava com dois centímetros. Tempos depois, com as dores aumentando, foi novamente solicitada a presença da enfermeira, que avisou à acompanhante que se sua filha continuasse chamando “toda hora”, “ela iria atender com ignorância”, pois tinha mais o que fazer. Quando voltou, fez um exame de toque com tanta força que a paciente quase desmaiou de dor, constatando que já estava com nove centímetros de dilatação. De forma arbitrária, foi impedido que a mãe entrasse com sua filha na sala de parto, sendo o procedimento realizado por estagiárias, pois o médico, supostamente, estava na hora do seu descanso, recusando-se até em costurar a paciente.

            A situação é grave e intolerável, mas possível evitar. Para prevenir a violência obstétrica, primeiramente, devemos nos informar a respeito (há diversos sites que falam detalhadamente sobre o assunto e sobre parto humanizado – nosso objetivo aqui é tão somente chamar a atenção para o problema). Precisamos, também, partilhar as informações com quem estará presente no pré-natal e no momento do parto, quando a mulher está mais frágil para resistir a tratamentos abusivos. Outra medida, muito útil, é elaborar um plano de parto (há vários modelos na internet), prevendo o que a paciente deseja ou não de procedimentos, e levar para assinatura prévia e tomada de conhecimento dos responsáveis pelo local onde ocorrerá o nascimento.

Se você que está lendo já passou por isso ou conhece alguém que relatou situação análoga, infelizmente, não foi um caso isolado. Ao menos, você não está sozinha. Pode nos procurar, ou ir diretamente à Defensoria Pública, a fim de que sejam tomadas as medidas jurídicas cabíveis. O importante é estarmos conscientes, unidas, em movimento, entendendo e defendendo o direito à vida, à saúde e a um tratamento digno. Não podemos mais tolerar abusos, sendo necessário mudar a cultura que banaliza as violações. Vem conosco, organize-se e lute! 


NOTA AOS MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES DOS PROFESSORES/AS, DO CAMPO POPULAR, INDÍGENA, QUILOMBOLA E SINDICAL DO MARANHÃO

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