Em Bacabal, várias pessoas e
grupos, em plena (pré)campanha, estão se apresentando como “oposição” e representantes
de uma “nova política”? Mas, o que essas expressões querem dizer? Fazer essa
pergunta é importante nesse momento para sabermos separar o joio do trigo.
Comecemos
pela exclusão, definindo o que não é “nova política”. No caso, usar a expressão
só para angariar a revolta de uma parcela da população em
relação à corrupção quase generalizada em nossa cidade, enquanto se reproduz as práticas
das campanhas milionárias, como gastos escusos e desmedidos com publicidade e constituir
uma ampla base de apoio por meio da compra
de lideranças comunitárias e pré-candidaturas. Eis só
mais um estratagema para enganar o povo: apresentar-se como “oposição” quando
se é parte do sistema, e não alternativa a ele, querendo apenas inverter as
posições na disputa pelo poder. Portanto, uma “nova política” não pode ser apenas
mudança de nomes, mas uma alternativa ao sistema mantido pela “situação” e por
essa suposta oposição. Nada de novo sob o sol, pois ambos buscarão, em 2020, arrematar
o leilão
eleitoral milionário, agregando a base fisiológica do
oponente, já nos primeiros meses de governo. Tratando-se de alternativas dentro
do sistema, podemos até mudar a cabeça, mas será mantido o corpo e as práticas,
com as lideranças e seus vícios passando de um grupo a outro, como por meio de
vasos comunicantes.
Não surpreende que
sejam os donos desses discursos hipócritas quem mais têm se sobressaído no
momento, destacando-se
justamente por fazer a política dos milhões, exatamente igual àquela exercida
pelos velhos caciques,
há décadas,
em Bacabal. Seus
meios são as compras e promessas para garantir apoios, financiados por fundos
escusos. Assim que, até o dia 4 de abril, pré-candidaturas foram sendo
leiloadas e mudando de grupos, conforme as melhores ofertas. Desse modo, também
na pré-campanha de 2020, não tem ganhado projeção a oposição ao sistema
clientelista e patrimonialista, mas as alternativas
dentro dele. Compreensível, pois a construção do verdadeiramente novo na
política municipal demanda mais tempo e esforço triplicado, pois precisa negar as
práticas corruptas com os atalhos que criam para encurtar caminhos, pois são justamente
estes que diferenciam a oposição da mera alternativa dentro do sistema. Apostar
na segunda é frustrar, mais uma vez, esperanças de termos uma cidade e gestão,
de fato, diferentes, pois gastos milionários de campanha serão ressarcidos
tendo a caneta para nomear secretários e a chave do cofre, para o desespero de
quem precisa de serviços públicos eficazes. Nesse cenário, emprego continuará
sendo pagamento de favor político, mantendo a clientela fidelizada. Para quem
ainda não entendeu, ou não quis entender: clientelismo é essa compra ou troca
de apoios, prendendo o povo com verbas ou cabide de “empregos” (seja já ou como
promessa).
Infelizmente, definir os
grupos majoritários assim é hipótese validada, e não suposição, a julgar pela
infraestrutura de campanha e pelo exército de apoio rapidamente adquiridos. Essa
forma de disputar consciências é ilegal, imoral, corrupta e parte do sistema
que se diz combater, vindo só melhor empacotada ou fantasiada com discurso do
novo, de mudança. Ela explora as enormes necessidades materiais do povo e sufoca
o debate público, pois apoios comprados não têm suas consciências em disputa,
mas contratadas para reproduzir as linhas oficiais dos discursos. Eis a velha “nova política”, que
não objetiva a independência e autonomia das pessoas. É tamanha a discrepância
entre discurso e prática que assusta, com o primeiro se contradizendo na
segunda. Hipocrisia generalizada, mas os supostos salvadores ou projetos de
insistem em falar em nova política e aqueles cujos apoios compram fingem nada
ver.
Mas, o que nós precisamos fazer
para, de fato, viabilizarmos uma “nova política” em Bacabal, voltada à
emancipação da sociedade e construção de uma cidade decente, trazendo uma
mudança da realidade material e da mentalidade social? Primeiramente, é nos
assumirmos como oposição, integrando-a ou apoiando-a. Basta das “situações”
corruptas e corruptoras. Basta das alternativas dentro do sistema, do “mais do
mesmo”, precisamos da “oposição” a ele. Esse cuidado e trabalho de distinção é
fácil: é só observar os discursos e as práticas dos pré-candidatos. A mudança
não começará depois de vencidas as eleições, mas ainda durante as
(pré)campanhas. Gastos milionários, compras ou promessas para obter apoio
indicam a mesmice, e é justamente o que a maioria está fazendo, especialmente,
quem mais espaço vem ocupando como “oposição” e o faz, justamente, por não ser.
Estes estão a milhares de anos luz de
uma nova política.
Nós, pessoas comuns que delegamos
mandatos precisamos parar de assinar cheque em branco, ou mesmo achar que apoio
é mercadoria. Entendamos a situação e nos organizemos politicamente, lutando para
mudar a cidade e sociedade. Se os problemas políticos são coletivos, as
soluções também o são. A “nova política” só se viabilizará se assumirmos que a
mudança depende de nós, e agirmos conforme tal entendimento. Analisados criticamente
os discursos e práticas e identificadas as discrepâncias, podemos nos organizar
em uma instituição democrática e
horizontal para
fazer o enfrentamento, dar combate à politicagem, expondo as mentiras,
denunciando os crimes, buscando os meios legais, inclusive, insurgindo-nos com
candidaturas de oposição ao sistema.
Para mudar a cidade, só gerando empregos e renda, trazendo ou criando
coletivamente indústrias, incentivando a agricultura familiar, implementando políticas
públicas, aplicando os recursos em instituições e setores que sirvam ao povo nas
respectivas áreas, fazendo concursos públicos, contratando de forma objetiva e impessoal. Só dessa forma acabaremos com a
cultura política corrupta, clientelista, patrimonialista e oligárquica em
Bacabal, que prende o povo pela necessidade material, que é proposital, pois os
governantes mantêm o atraso como política oficial.
Vamos nos colocar à disposição,
nos organizar e elevar as consciências para que haja um levante popular por
essa revolução, caminhando com quem tem o desejo de ver nossa cidade crescer
econômica e socialmente e sair do mapa da corrupção. Basta de desmandos, dessa
“política do atraso”, dessa bandidagem, dessa politicagem que hipócritas
denunciam enquanto praticam. Coloquemos as mãos no arado, vamos além das falas,
das reclamações, vamos fazer alguma coisa. Vamos! Nós, cidadãos comuns,
diretamente atingidos, precisamos romper com essa “lógica”, com esse sistema de
gestão do bem público como bem privado (patrimonialismo), que mete a mão na
verba coletiva em detrimento do povo e na cara dura, como se leis não existissem.