sábado, 11 de abril de 2020

A velha “nova política” em Bacabal: Oposição dentro do sistema ou a ele?



Em Bacabal, várias pessoas e grupos, em plena (pré)campanha, estão se apresentando como “oposição” e representantes de uma “nova política”? Mas, o que essas expressões querem dizer? Fazer essa pergunta é importante nesse momento para sabermos separar o joio do trigo. 

Comecemos pela exclusão, definindo o que não é “nova política”. No caso, usar a expressão só para angariar a revolta de uma parcela da população em relação à corrupção quase generalizada em nossa cidade, enquanto se reproduz as práticas das campanhas milionárias, como gastos escusos e desmedidos com publicidade e constituir uma ampla base de apoio por meio da compra de lideranças comunitárias e pré-candidaturas. Eis só mais um estratagema para enganar o povo: apresentar-se como “oposição” quando se é parte do sistema, e não alternativa a ele, querendo apenas inverter as posições na disputa pelo poder. Portanto, uma “nova política” não pode ser apenas mudança de nomes, mas uma alternativa ao sistema mantido pela “situação” e por essa suposta oposição. Nada de novo sob o sol, pois ambos buscarão, em 2020, arrematar o leilão eleitoral milionário, agregando a base fisiológica do oponente, já nos primeiros meses de governo. Tratando-se de alternativas dentro do sistema, podemos até mudar a cabeça, mas será mantido o corpo e as práticas, com as lideranças e seus vícios passando de um grupo a outro, como por meio de vasos comunicantes. 
Não surpreende que sejam os donos desses discursos hipócritas quem mais têm se sobressaído no momento, destacando-se justamente por fazer a política dos milhões, exatamente igual àquela exercida pelos velhos caciques, há décadas, em Bacabal. Seus meios são as compras e promessas para garantir apoios, financiados por fundos escusos. Assim que, até o dia 4 de abril, pré-candidaturas foram sendo leiloadas e mudando de grupos, conforme as melhores ofertas. Desse modo, também na pré-campanha de 2020, não tem ganhado projeção a oposição ao sistema clientelista e patrimonialista, mas as alternativas dentro dele. Compreensível, pois a construção do verdadeiramente novo na política municipal demanda mais tempo e esforço triplicado, pois precisa negar as práticas corruptas com os atalhos que criam para encurtar caminhos, pois são justamente estes que diferenciam a oposição da mera alternativa dentro do sistema. Apostar na segunda é frustrar, mais uma vez, esperanças de termos uma cidade e gestão, de fato, diferentes, pois gastos milionários de campanha serão ressarcidos tendo a caneta para nomear secretários e a chave do cofre, para o desespero de quem precisa de serviços públicos eficazes. Nesse cenário, emprego continuará sendo pagamento de favor político, mantendo a clientela fidelizada. Para quem ainda não entendeu, ou não quis entender: clientelismo é essa compra ou troca de apoios, prendendo o povo com verbas ou cabide de “empregos” (seja já ou como promessa). 
Infelizmente, definir os grupos majoritários assim é hipótese validada, e não suposição, a julgar pela infraestrutura de campanha e pelo exército de apoio rapidamente adquiridos. Essa forma de disputar consciências é ilegal, imoral, corrupta e parte do sistema que se diz combater, vindo só melhor empacotada ou fantasiada com discurso do novo, de mudança. Ela explora as enormes necessidades materiais do povo e sufoca o debate público, pois apoios comprados não têm suas consciências em disputa, mas contratadas para reproduzir as linhas oficiais dos discursos. Eis a velha “nova política”, que não objetiva a independência e autonomia das pessoas. É tamanha a discrepância entre discurso e prática que assusta, com o primeiro se contradizendo na segunda. Hipocrisia generalizada, mas os supostos salvadores ou projetos de insistem em falar em nova política e aqueles cujos apoios compram fingem nada ver. 
Mas, o que nós precisamos fazer para, de fato, viabilizarmos uma “nova política” em Bacabal, voltada à emancipação da sociedade e construção de uma cidade decente, trazendo uma mudança da realidade material e da mentalidade social? Primeiramente, é nos assumirmos como oposição, integrando-a ou apoiando-a. Basta das “situações” corruptas e corruptoras. Basta das alternativas dentro do sistema, do “mais do mesmo”, precisamos da “oposição” a ele. Esse cuidado e trabalho de distinção é fácil: é só observar os discursos e as práticas dos pré-candidatos. A mudança não começará depois de vencidas as eleições, mas ainda durante as (pré)campanhas. Gastos milionários, compras ou promessas para obter apoio indicam a mesmice, e é justamente o que a maioria está fazendo, especialmente, quem mais espaço vem ocupando como “oposição” e o faz, justamente, por não ser.  Estes estão a milhares de anos luz de uma nova política. 
Nós, pessoas comuns que delegamos mandatos precisamos parar de assinar cheque em branco, ou mesmo achar que apoio é mercadoria. Entendamos a situação e nos organizemos politicamente, lutando para mudar a cidade e sociedade. Se os problemas políticos são coletivos, as soluções também o são. A “nova política” só se viabilizará se assumirmos que a mudança depende de nós, e agirmos conforme tal entendimento. Analisados criticamente os discursos e práticas e identificadas as discrepâncias, podemos nos organizar em uma instituição democrática e horizontal para fazer o enfrentamento, dar combate à politicagem, expondo as mentiras, denunciando os crimes, buscando os meios legais, inclusive, insurgindo-nos com candidaturas de oposição ao sistema. 
Para mudar a cidade, só gerando empregos e renda, trazendo ou criando coletivamente indústrias, incentivando a agricultura familiar, implementando políticas públicas, aplicando os recursos em instituições e setores que sirvam ao povo nas respectivas áreas, fazendo concursos públicos, contratando de forma objetiva e impessoal. Só dessa forma acabaremos com a cultura política corrupta, clientelista, patrimonialista e oligárquica em Bacabal, que prende o povo pela necessidade material, que é proposital, pois os governantes mantêm o atraso como política oficial. 
Vamos nos colocar à disposição, nos organizar e elevar as consciências para que haja um levante popular por essa revolução, caminhando com quem tem o desejo de ver nossa cidade crescer econômica e socialmente e sair do mapa da corrupção. Basta de desmandos, dessa “política do atraso”, dessa bandidagem, dessa politicagem que hipócritas denunciam enquanto praticam. Coloquemos as mãos no arado, vamos além das falas, das reclamações, vamos fazer alguma coisa. Vamos! Nós, cidadãos comuns, diretamente atingidos, precisamos romper com essa “lógica”, com esse sistema de gestão do bem público como bem privado (patrimonialismo), que mete a mão na verba coletiva em detrimento do povo e na cara dura, como se leis não existissem.


4 comentários:

  1. Remendo novo em roupa velha. Chega! Há uma Esperança no sentido próprio de esperançar: lutar e crer, vencer a dor. Eis que se levantam vozes para a real construção do novo na política em Bacabal e os bacabalenses terão orgulho de comemorar um a um os anos do próximo centenário que começa aqui.

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  2. Não temos nada de nova política a não ser uma pretendida didática falsiane de velhos querendo ser novos... kkkkkkkkkkk

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  3. Uma nova política passa pelo rompimento com o patrimonialismo e seus derivados: clientelismo, voto de cabresto, nepotismo, confusão entre o público e o privado, falta de preocupação com a qualidade de vida dos administrados... Infelizmente, muitos que se pintam de oposição são apenas a situação, só que fora do poder, não uma alternativa, como diz o texto.
    O PSOL está trilhando, felizmente e com muito trabalho, o caminho de uma oposição verdadeira. Sigamos em frente!

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  4. Precisamos mudar essa triste realidade em nossa cidade.Temos que votar em pessoa que tenha projetos para distribuir melhor a renda em nossa cidade.
    Não aguento mais ver minha cidade se destacando em rede nacional só por coisas mal.

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