Essa
situação de massivo desemprego, miséria e dependência pode ser constatada na seção do IBGE Cidades sobre
“Trabalho e rendimento” em Bacabal. Quanto à proporção de pessoas ocupadas em relação à população
total ela é baixíssima: em 2018, eram
apenas 9.608 pessoas (9,2%) de um total de 100.014. O salário médio mensal
dos trabalhadores formais empregados era de 1.8 salários mínimos. Comparando,
respectivamente, salário médio e proporção de ocupação, Bacabal ficou na
posição 3263 de 5570 e 3725 de 5570 dentre os municípios brasileiros. 45.3% da
população apresenta rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa,
estando Bacabal na posição 203 de 217 dentre as cidades maranhenses.
Sobre a economia do município, chama atenção a
disparidade gritante na importância do setor terciário, ou de serviços.
Atividades como administração
pública, comércio, manutenção e reparo de veículos somaram, conforme dados de
2016, 86,3% do total da economia local, contra apenas 7,6% da indústria (setor
secundário) e 6% da agropecuária (setor primário). Ou seja, Bacabal é,
economicamente, completamente dependente de importações, produzindo muito pouco
do que é consumido na cidade, que se caracteriza apenas pela distribuição dos
serviços e produtos fabricados fora. As consequências são óbvias: poucos postos
de trabalho, encarecimento do custo de vista e maior pegada ambiental. Será que
somos incapazes de produzir nossos próprios alimentos, a exemplo do ovo que
consumimos, que vem de granjas situadas no Ceará, a mais de 700km de distância?
Isso explica porque, o PIB de Bacabal representa, apenas, 1,49% do PIB maranhense,
e já foi 1,69%, em 1991.
É
necessário e possível enfrentar essa triste e dura realidade, fortalecendo as
cadeias produtivas locais. Nossa diretriz é desenvolver, urgentemente, uma
política de trabalho e renda, que tenha em seu núcleo o conceito de “trabalho
decente” e economia solidária. A Organização Internacional do Trabalho definiu
o trabalho decente como aquele “adequadamente remunerado,
exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma
vida digna”. Tal lógica perpassa tanto o emprego privado quanto público,
cabendo políticas específicas para cada segmento.
Em nosso caso, é inevitável pensar de imediato na precariedade dos servidores
municipais contratados, mantidos em condição de precarização econômica e
controle político. Aqui, o antídoto é a realização imediata de concursos públicos e processos seletivos impessoais e objetivos,
com pleno controle social. Vamos valorizar, estabilizar e emancipar o servidor
público, garantindo capacitação e melhores condições
de trabalho, criando ou ampliando planos de carreira, assim como adotando
políticas de combate ao assédio moral.
Quanto
aos empregos no setor privado, o horizonte é a economia solidária (ES).
Ela se aplica às distintas iniciativas embasadas na autogestão, cooperativismo,
igualitarismo e autosustentação. Funda-se na participação coletiva e
democrática das e dos trabalhadores na produção, gestão, distribuição e
comercialização. A gestão municipal deve estimular e promover as redes de
economia solidária, seja no urbano seja no rural bacabalense, visando o
desenvolvimento humano e a responsabilidade socioambiental.
Mas
não basta a qualificação e o fomento ao
empreendedorismo, de preferência coletivo, incluindo a educação
financeira. É necessário criar um fundo municipal solidário de
investimentos para, no conjunto, aproveitar e fortalecer o
potencial criativo e econômico dos sujeitos e da comunidade. Trata-se de um
processo virtuoso, que estabiliza e garante sustentabilidade socioambiental ao
crescimento econômico; gera emprego e renda e reduz desigualdades. Fundada
em iniciativas de capacitação e financiamento, a ES ativa o circuito
econômico local por meio da produção de bens e serviços pela maior
quantidade possível de sujeitos, sobretudo, aqueles que mais dependem das
políticas públicas. Assim, também fortalece o sentimento de pertença
e os laços de solidariedade. Evidencia o acerto dessa diretriz o fato da
maioria da renda e dos postos de trabalho, no Brasil todo, ser oriunda das
pequenas e médias empresas, incluindo-se aí as cooperativas.
Portanto, cabe incentivar e
apoiar ações de empreendedorismo e atividades produtivas solidárias,
incluindo o comércio e a prestação de serviços. A premissa é de um novo padrão
de desenvolvimento, de base popular, que capacita e incentiva iniciativas
econômicas dos setores mais vulneráveis, gerando renda, postos de
trabalho e fortalecendo a economia local.
Para isso vamos democratizar e
ampliar a formação e qualificação profissional bem como os instrumentos de
crédito e financiamento popular, atendendo quem mais precisa das políticas
públicas para gerar renda e ter empregabilidade. A diretriz da ES irá perpassar as políticas
municipais, entendidas em sua multidimensionalidade, garantindo-se condições para
as e os bacabalenses atuarem nas diferentes áreas, como cultura, turismo,
esporte, educação, saúde, lazer entre outras. Some-se a isso o final das
isenções indevidas, que comprometem a receita do município, como cobrança de
IPTU para quem pode pagar. Eis o caminho para fortalecer a economia local, aumentar
as receitas e, com isso, investir nas demais áreas. Assim, em pouco tempo, o município
gerará receitas próprias, superando a dependência externa e efetivando nossos direitos
sociais.
Em
suma, nosso pressuposto é o de que, para garantir o desenvolvimento e nossos direitos
é necessário investimentos vultuosos em todos os setores e áreas. Se, hoje, a
arrecadação direta do município é baixa, Bacabal recebe significativos repasses
do governo federal e investimentos estaduais, que devem ser otimizados,
combatendo-se a corrupção e a sonegação. Aliada a nossa diretriz de economia
solidária e fortalecimento da cadeia produtiva local, a transparente,
democrática e eficaz gestão dos recursos públicos
permitirá, gradativamente, ampliar a receita direta e garantir um
desenvolvimento econômico sustentável, elevando o bem estar da população. Para
isso é central que o poder municipal planeje, incentive e promova junto à
sociedade o desenvolvimento de atividades econômicas que configurem
oportunidades e sejam, assim, elencadas como prioritárias.
Vamos
investir na promoção do desenvolvimento econômico local solidário, potencializando
a geração sustentável e solidária de receitas municipais. Assim, vamos superar
a dependência externa, as pegadas ambientais e o ineficaz modelo clientelista, reduzindo a miséria,
pobreza e desigualdades socioambientais. Desse modo, no médio/longo prazo
estará viabilizada a efetivação dos direitos econômicos, sociais e culturais da
população, por meio do maior volume disponível de investimentos setoriais, como
na saúde, educação, etc.