Bacabal pode ter um futuro
brilhante, a depender do acerto de nossas ações no presente. Aprimorar a
educação pública será determinante. Para isso, é central investir no setor e
nos sujeitos da educação, capacitando e valorizando os profissionais e
planejando coletivamente as ações, com base no princípio da gestão democrática.
Eis nossa obrigação e principal objetivo.
A
educação brasileira tem três objetivos: formação da cidadania, qualificação
para o trabalho e desenvolvimento integral do sujeito. Portanto, ela é
multidimensional e ocorre em diferentes espaços, estando na base da sociedade.
É fim em si, mas também meio para a garantia de outros direitos e de um futuro de
esperança e inclusão. A educação pública é determinante para o desenvolvimento
humano de um município. Logo, esse setor fundamental deve ser gerido com o
maior empenho, zelo, planejamento e qualificação.
A
educação deve garantir a promoção humanística,
científica, cultural e tecnológica do município, enfatizando junto com
habilidades e valores a formação cidadã, o
respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental, erradicando todas as formas de discriminação. É uma educação emancipadora que forma cidadãs e
cidadãos melhores para o mundo, atuantes de forma crítica e solidária em suas
realidades. O caminho é uma escola que ensine a ser, agir e pensar de forma coletiva,
lógica, criativa e estratégica, que estimule o raciocínio, uso das linguagens,
a autonomia crítica e a experimentação.
Pensando
nos profissionais da educação, diante das enormes contradições sociais que se refletem
na escola, é fundamental que tenham a melhor qualificação possível e
valorização, para que estejam, permanentemente, dispostos a mover moinhos e
garantir o futuro da sociedade, formando as novas gerações. A ênfase, portanto,
recai sobre a estabilização, valorização e qualificação. O meio de acesso à
carreira na educação municipal deve ser, prioritariamente, por concursos e,
secundariamente, por processos seletivos simplificados, que garantam
contratações objetivas, impessoais, com pleno controle social e transparência e
com base na qualificação dos profissionais, ao invés de indicação política.
Assim, teremos os profissionais melhor preparados para a tarefa do ensino, garantindo que a educação atinja seus elevados
objetivos.
Embora
seja um ponto central, não basta pensar só nos profissionais. É necessário
também garantir a infraestrutura e os equipamentos adequados, recorrendo aos
diferentes entes públicos, de forma consorciada, para obter recursos.
Paralelamente, é obrigação gerir com todo rigor as verbas destinadas à pasta,
assim otimizando-as. De imediato, é possível e necessário levantar dados acerca
das diferentes realidades escolares e, com base neles e na definição de critérios
objetivos, planejar os investimentos conforme as prioridades elencadas. Deve-se
buscar parcerias e auxílio com entidades públicas e privadas e institutos
nacionais e internacionais, desenvolvendo planos e projetos para captação de
recursos suplementares e qualificação do setor. Há que se fazer um esforço
conjunto com demais pastas para que o município aumente suas fontes de
receita para, com isso, ampliar os investimentos na
área.
Apontados
os caminhos para qualificação e valorização profissional e da infraestrutura,
cabe também apontar rumos para o alunado. É fundamental que as escolas sejam espaços
de inclusão, de respeito, de desenvolvimento da criatividade, dos afetos, das
capacidades, das inteligências, da valorização e respeito das subjetividades e
da coisa pública. As escolas são o primeiro contato e experimentação da vida
pública, portanto, devem ser espaços democráticos que preparem, na prática, os
futuros cidadãos e cidadãs para o exercício de seu papel na vida coletiva. A
criação de órgãos de representação estudantil precisa ser valorizada e
estimulada, entendida como fundamental para a vivência democrática e cidadã. Os
debates em sala de aula devem, necessariamente, contemplar a situação
municipal, estadual e federal, integrando os alunos na realidade, conforme
orienta a Base Nacional Comum Curricular. No lugar do “conteudismo”, a utilização
dos conhecimentos escolares para compreenderem a realidade na qual estão
inseridos e se posicionarem de forma reflexiva, crítica e ética, propondo rumos
para a vida coletiva. As disciplinas obrigatórias não devem ser trabalhadas de
forma isolada, mas planejadas no início do ano letivo, e constantemente
avaliadas e replanejadas, de forma transdisciplinar, elencando os eixos
temáticos articuladores, que conectam o saber escolar à realidade imediata dos
alunos e aos objetivos da educação. Isso só é possível com professores
estáveis, qualificados e seguros de que não sofrerão retaliações.
As relações
direção-professor-aluno-comunidade devem ser pautadas pelo respeito, diálogo e tomada
coletiva de decisões. O espaço escolar é partilhado pelos diferentes sujeitos
que, ao serem incluídos na gestão comum sentem-se parte, portanto,
responsabilizam-se. A escola deve ser vivida e sentida como casa de nossos
alunos, inclusive, ficando abertas aos finais de semana com atividades voltadas
para a comunidade. Esta também precisa ser integrada, consolidando a
“comunidade escolar” na prática. A escola precisa
ser vista como um ambiente estimulante, acolhedor e seguro, que encoraje a
participação nas atividades, promovendo um sentimento de pertencimento e zelo
por ela, como espaço público e comunitário.
Ainda pensando na comunidade, uma
diretriz central é a erradicação do analfabetismo, inclusive funcional,
qualificando seu preparo como um todo para o exercício de suas
responsabilidades públicas, como cidadãs e cidadãos. Outra diretriz é
universalizar o atendimento escolar, mas garantindo condições que viabilizem o
trabalho educacional, evitando a superlotação.
Em resumo, é necessário adequar a
educação no século XXI ao século XXI, atualizando-a e incidindo tanto nas
atividades curriculares quanto extracurriculares, disciplinares e
transdisciplinares. Devem ser planejadas e executadas ações que estimulem os
alunos, que desenvolvam faculdades comunicacionais, de raciocínio lógico, de
visão holística para os problemas e busca de soluções, de criação de fontes de
renda e gestão desta. Métodos eficazes de ensino-aprendizagem devem ser
buscados e generalizados, junto com formas
eficientes e coletivas de gestão e de avaliação dos resultados.
Contudo,
o estado atual não está favorável, sendo necessária uma ruptura drástica.
Historicamente, a educação municipal não tem sido tratada como fim em si, como
investimento no presente e no futuro. Vem sendo usada como meio de manutenção
do poder político, uma das principais secretarias colocada a serviço da lógica clientelista. Isso compromete sua eficácia
e, com ela, a formação das futuras gerações de cidadãs e cidadãos bacabalenses.
Escolas precárias, profissionais controlados, silenciados e desestimulados, alunos com
enormes dificuldades e demandas não supridas. A
educação inclusiva para alunos portadores de necessidades especiais, embora
tenha avançado, ainda está muito aquém do necessário. Isso tudo
emana de gestões espontaneístas, sem planejamento, organização, controle e
direção, cujos princípios não são os constitucionais (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, ou LIMPE).
Sendo
meio de manutenção do poder, e não fim em si, têm sido comuns cortes,
fechamento precoce e não atendimento dos 200 dias letivos, com demissões
antecipadas de profissionais e início tardio do ano letivo, justificado por
reformas extemporâneas, dentre outros subterfúgios. Os índices de analfabetismo
estão elevados, assim como a formação precária dos alunos evidenciada em indicadores,
como o IDEB e a Prova Brasil. Faltam equipamentos e recursos básicos, com as e os
professores, muitas vezes, tendo que custear o
material que irão utilizar. Os 200 dias letivos mínimos não têm sido cumpridos,
sendo comuns dias sem aula devido a falta de profissionais ou de água, luz ou
merenda. O orçamento não tem transparência, o que impede um controle social dos
gastos.
Com contratos precários, garantidos
de forma personalista, parte do corpo
funcional não tem estímulo, ou mesmo capacidade para o exercício da função.
Muitos profissionais com qualificação têm sido preteridos para colocar em seu
lugar outros, como contrapartida de apoio político. Há, ainda, denúncias da
divisão ilegal de cargos entre mais de um profissional, como nos povoados, de
modo a assentar uma base de apoio eleitoral ainda maior.
Os próprios profissionais sabem que
precisam se calar diante de tudo isso para garantir seus preciosos contratos
que, embora precários, garantem o mínimo para sua sobrevivência. Como podem
nossas educadoras educar para emancipar, se elas próprias estão cativas em um
sistema precário e perverso de controle político e ideológico? O personalismo,
o clientelismo e o autoritarismo nas nomeações e relações profissionais alienam
os diferentes sujeitos da educação (professoras, funcionários, alunos) e a
comunidade como um todo, implicando na falta de participação e deliberação
coletiva. Assim, na prática, a tão falada “comunidade escolar” está inviabilizada
por uma cultura autoritária.
Em resumo, a politicagem vem
comprometendo todas as áreas, mas ao incidir também na educação, compromete não
só o presente, mas o futuro de toda nossa sociedade. Essa lógica é perversa,
assassina de nossas esperanças coletivas. Basta.
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