Em
nossa política municipal, há dois mundos paralelos: o das essências e o das
aparências. O desejo pelo Palácio das Bacabas é o ponto comum, onde ambos se
cruzam.
No
mundo das aparências, é tudo tão democrático e limpo, que dá até gosto. Até
parece que temos opções de verdade, variações, que A é diferente de B e de C. Acompanhando
o faz de conta da politicagem, lemos, vemos ou escutamos que fulano apoiará
ciclano, beltrana apoiará beltrano. Essas são as notícias, que não param de
circular nas redes sociais. Pretendentes ao Palácio circulando fotos com
personalidades, lideranças comunitárias e pré-candidaturas a vereador,
abraçando-os e recebendo seu apoio. Ainda na superfície ou aparências, essas
lideranças sociais só pensam no bem público, dividem-se entre os concorrentes conforme
o que entendem ser o melhor para todas e todos e para a cidade em geral. Até
antigos inimigos, que mobilizaram paixões em suas disputas entre si, abraçam-se
e prometem caminhar juntos para o bem de todos. Coitado de quem se apaixonou e comprou a briga, pois agora engole sapo.
Contudo,
nos bastidores, a portas fechadas, no mundo das essências, o papo é reto,
direto e sujo. Algumas perguntas resumem essa política municipal: - Qual teu
preço irmão? E o seu irmã? Por 1.000 me apoia? E 5.000? 20.000 é nossa última
oferta ... Quantos cargos quer? O preço do passe é tanto mais alto quanto maior a influência que nossa
liderança aparenta ter. Cada um tem seu preço: pré-candidato a vereador, presidente
de associação de moradores ou de movimento social, liderança comunitária... Segue
a todo vapor essa política do andar de cima, que vem de cima para baixo, que só
chega nas pessoas na hora do pedido de voto e oferta inescrupulosa de vantagens
acaso A ou B seja eleito. Os gastos já são milionários, e nós arcaremos com
eles assim que o próximo candidato "de milhões" tomar o palácio e duplicar o
valor investido, desviando verbas públicas. Assim que, A é exatamente igual a B e C, e por isso não têm
nem vergonha de se unir, surpreendendo quem achou que havia, realmente,
diferenças. Mesmas práticas, só muda o topete. O passe das pré-candidaturas a
vereador está valorizadíssimo, dado a competição entre os grandes que disputam
as prévias de Bacabal. É lei de mercado: Quanto maior a demanda, maior o preço
que se pode cobrar para vender seu passe, e esse ano há mais de dois cavalos
grandes no páreo, logo, o valor dos líderes e (pré)candidatos está valorizadíssimo.
Eis porque tem surgido tanta associação e movimento, é ano de eleição, e é só
para valorizar o passe. Os ignorantes que se cuidem com esse episódio inicial
das campanhas milionárias, ou do “leilão da miséria e da ruína em Bacabal”. É
politicagem, é molecagem.
Em
nosso cenário de miséria geral, é fácil entender porque as coisas estão assim. Peixe
grande sabe que quem tem fome tem pressa, dizia Betinho. Política municipal,
para a maioria da população, é questão de sobrevivência. Apoiar o cavalo certo
é garantir um alívio para as agruras da vida, nem que seja por pouco tempo. É
promessa do tão sonhado emprego, que pode dignificar. É a “peixada”. Daí que,
muitas pessoas, mesmo sabendo o que é certo, preferem se calar, aguardando as
benesses do poder ou para não sofrer retaliações. A autocensura
é generalizada. Para quem tem cargo, participar de ato público independente, ou até curtir, compartilhar ou
postar coisas em redes sociais? Jamais! É muito arriscado, para si ou pessoas
próximas, a não ser que seu passe já esteja comprado, daí, é sua obrigação. Os
olhos do poder, o velho Kraken com seus tentáculos, vigiam a todos e todas. O
culpado disso tudo não é o povo que padece, mas os politiqueiros, que exploram
a miséria com sua política do atraso.
Igualmente culpados são os líderes comunitários, que os apoiam, ao invés de se
orientar pelos interesses de suas bases. Transformam representação social e
política em meio de enricar. Se você dirige associação, que prevaleça os
interesses dos associados e nãos os seus. Assim que, estamos prestes a
completar os 100: sem saúde, sem educação, sem saneamento básico, sem
segurança, sem emprego, sem dignidade. Logo, estamos sem futuro algum, acaso nossa
única possibilidade de futuro seja a repetição sem fim de nosso presente
deplorável. É necessário romper com o clientelismo e patrimonialismo já. E que vá junto o personalismo.
Felizmente,
para toda regra há exceções. Ainda há quem construa projetos políticos, quem
reúna pessoas de luta, que não têm preço, que não se vendem nem se importam se
vão ganhar ou perder, mas, sim, se vão conseguir conscientizar as pessoas,
acumular forças e organizar quem luta para transformar o deprimente estado de
coisas no qual nossa cidade se encontra. Precisamos entender o mecanismo dessa
máquina de miséria e opressão para desarticula-la. Precisamos compreender que a
saída para os problemas políticos só pode ser coletiva,
e não individualista. Precisamos nos apropriar dos instrumentos de luta, que estão
à nossa disposição. Precisamos tanto de movimentos sociais que não sejam mero
palanque quanto de uma ferramenta que acumule toda essa força social, capaz de
romper com o sistema podre. O instrumento mais potente que temos é somar forças
e nos apropriarmos de um partido democrático, horizontal, que discute tudo de
forma coletiva e transparente, que se alinha com propostas e um programa, e não
pela soma de interesses escusos. Basta também de falsos heróis, oportunistas de
plantão.
Essa
ferramenta coletiva de luta foi criada ano passado,
e se fortalece a cada dia. Para as eleições de 2020, o programa é claro. Em
Bacabal, falta tudo. Está difícil apontar ao menos uma área que esteja
resolvida. Em nosso entendimento, temos que cortar a raiz do problema
conduzindo a gestão municipal, com zelo e rigor, em conformidade com os cinco
princípios constitucionais: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência. Nossa palavra de ordem é: LIMPE Bacabal!
Esperançar, se organizar e lutar. Há alternativas e já começamos a encontrar as
rachaduras desse sistema de poder e espoliação para desmontá-lo.