terça-feira, 26 de outubro de 2021

QUE MARANHÃO NÓS QUEREMOS?

Considerações para o debate sobre as eleições de 2022.


Aproxima-se a disputa eleitoral de 2022 no Maranhão. Com ela, uma concepção de nova política se apresenta nos discursos: que a (mera) troca de cúpula administrativa significaria uma ruptura com velhos hábitos.

Seria trocando os monarcas, colocando um déspota esclarecido, que as coisas iriam para frente. Será mesmo que de cima para baixo, dos gabinetes fechados, sairia a solução para os nossos problemas? 

Flávio Dino, que para muitos representou um avanço – e, em certa medida, foi –, para chegar ao poder cedeu aos velhos caciques locais, coronéis do século XXI que mandam e desmandam nos municípios maranhenses. 

Na prática, buscou-se conciliar uma espécie de progressismo às velhas práticas patrimonialistas – que confudem o público com o privado – e clientelistas – sob as quais o estado está a serviço de interesses... nada republicanos, diria por eufemismo.

São esses alguns dos elementos do coronelismo, que, a despeito da derrota da família Sarney, ainda permanecem no Maranhão e, em grande parte, com o apoio de parcela do campo dito progressista.

O que acontece é que foram mortas muitas lideranças do campo popular nos municípios porque o partido que deveria ser de luta foi reduzido a objeto de barganha para ser rifado ao coronel local, com anuência dessa cúpula que para muitos já foi a nova política. Já envelheceu.

No Maranhão, será que haverá avanços verdadeiros e sustentáveis, do ponto de vista social, econômico, político e ambiental, enquanto na base as prefeituras continuam espoliando os cidadãos de todas as formas?

Discutir o poder local é discutir os verdadeiros problemas do Maranhão, porque ali a correlação de forças se constrói. Nessa perspectiva, não há governo que opere para o bem coletivo e com base popular sem considerar essa realidade. Dessa forma, anunciar as eleições para o executivo estadual de 2022 como a chance de mudança real seria um equívoco se não fosse um engodo, haja vista que, primeiramente, qualquer governo eleito com a atual composição do poder só chega lá depois de passar por cima de muitos valores. Lá também só permanece se for dessa forma.

Não se pode servir a dois senhores.

Dito isso, cabe a pergunta: qual seria o papel das eleições de 2022 para a construção de um Maranhão verdadeiramente melhor? Qual o papel na Assembleia, no Congresso ou no Governo de forma imediata, tendo em vista a luta maior que travamos por um mundo cujos valores não sejam os de agora? 

A primazia do bem coletivo, do poder popular, solidariedade e honestidade são alguns dos princípios que não devem ser negociados. Não abrir mão do nosso ideal de sociedade, o que não se confude com sectarismo, é fundamental para não sermos "mais do mesmo" e não confundirmos os meios com os fins.

O Maranhão precisa de um projeto que tenha a população como protagonista, não mera espectadora.


João Carlos Lima, presidente do PSOL em Bacabal - MA.

Um comentário:

  1. Lúcidas reflexões. É importe jamais esquecermos de perguntar: que Maranhão nós queremos? Só não devemos esquecermos de oferecer uma resposta, pois são elas, as respostas, que movem o mundo.

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