terça-feira, 10 de setembro de 2019

Democracia ou “plutocracia”? Breve diagnóstico e alternativas para as mazelas sociais de Bacabal e do Brasil




Democracia significa “poder do povo” e é nossa bandeira diária, seja em Bacabal, seja no Maranhão ou no Brasil. Mas, para se concretizar, não basta só o voto e constar na Constituição que “todo poder emana do povo”, assegurando pleitos eleitorais bianualmente. Para o “poder ser do povo” são necessários ao menos dois requisitos: representatividade de fato e que todas e todos tenham condicões dignas de vida. Primeiramente, nos espaços representativos da democracia (Congresso, assembleias, câmaras, presidência, prefeituras), os escolhidos devem, de fato, “estar no lugar de” quem os escolheu ou elegeu, defendendo os interesses do conjunto social, ou ao menos de determinada classe ou categoria. Segundo, democracia política depende da democracia econômica e social. Acesso ao voto, mas também a salário digno e a direitos humanos, como educação, moradia, transporte, cultura, lazer, saúde e emprego.
Vamos primeiro ao problema, depois às soluções. Infelizmente, temos falhado nessas duas condições. Representatividade de fato não tem sido a regra, mas a exceção dentre nossos atuais representantes. No Congresso brasileiro quem dá as cartas são as “bancadas”. Na relação Prefeitura/Câmara Municipal, em Bacabal, não há equilíbrio de poderes nem oposição de fato. Vereadores e deputados, como legislativo, têm seu poder de controle e fiscalização do executivo comprado e anulado com cargos, que servem aos legisladores para perpetuarem seus mandatos, “arranjando” lugar para seus cabos eleitorais. No tocante à democratização social, econômica e política, a maioria de nossos representantes também tem falhado. Os níveis de vida da maioria denunciam a ausência de condições efetivas para que exerçam seus direitos e deveres cidadãos, debatendo, participando, cobrando e sabendo eleger quem, de fato, representará seus interesses. Seja pela necessidade seja pela ignorância, as escolhas políticas dificilmente se relacionam com os interesses reais de quem escolhe, afinal, as campanhas são milionárias e feitas para convencer as pessoas, quando não comprá-las. Quando a miséria está difundida o voto se torna um alívio temporário, uma moeda de troca. É o sistema clientelista em ação, que legitima os mandatos patrimonialistas, com o tratamento da coisa pública como bem privado.
Considerando todas essas deficiências políticas, econômicas e sociais, ao invés de “democracia” devemos falar em “plutocracia” (ou “governo do dinheiro”), com os tentáculos do poder sempre atuantes. Afinal, são os gastos milionários que elegem a maioria das candidaturas. Em uma sociedade carente e ignorante, “demonstrar força” é pré-requisito para ser eleito, pois as pessoas precisam apostar no “cavalo favorito” e assim ter emprego para sobreviver, nem que para isso abram mão de seus direitos civis e políticos plenos, como se autocensurando. Logo, não há democracia real, mas plutocracia. Sim, é o caso de Bacabal.
Já nomeados nossos problemas, passemos às bandeiras de luta e soluções. Claro que há representantes que resistem a essa corrupção da representatividade e miséria social, e precisamos apoiá-las(os). Um exemplo é a sempre combativa bancada do PSOL no Congresso Federal, outrora oposição aos governos do PT e agora ao do PSL, que foi fundado recentemente em Bacabal. São indicativos de honestidade analisar como a política é feita no dia a dia dessas pessoas ou grupos, o custo das campanhas eleitorais, a forma como são financiadas e feitas, se com base em projetos ou promessas, com muito ou pouco recurso, voluntários ou pessoas contratadas.
Resistir é não só possível, como necessário, seja nas ruas, nas redes ou nos espaços estabelecidos de poder, cabendo a nós, sociedade civil organizada, o dever de integrar, ou ao menos apoiar grupos independentes, que representem nossos interesses no dia a dia, elevando a consciência política da população, denunciando desmandos, mobilizando as lutas ou apresentando candidaturas representativas de fato. A bandeira é radicalizar a democracia, estendendo-a e fazendo-a vigorar na política, sociedade e economia. A democracia é um projeto, uma meta a ser alcançada, que exige luta diária. Devemos partilhar esse ideal comum junto a outro, o humanismo, criticando relações sociais desiguais ou de dominação, que negam nossa liberdade e igualdade inerentes. Humanos têm o mesmo valor, o mais alto dentre todos. Indivíduos e grupos não podem transformar outros em meros meios para satisfazer suas necessidades, como acontece com a exploração do trabalho de milhões de pessoas por poucos bilionários. Deve prevalecer a justiça social, para que a solidariedade seja valor comum.
Democratizar é transformar relações de poder desiguais em relações de autoridade partilhada, eis o projeto fundamental das esquerdas. Estas, apesar de equívocos em experiências históricas, defendem teorias e práticas transformadoras, democratizadoras, que resistem à lógica perversa do neoliberalismo, que faz com que os oito sujeitos mais ricos do mundo tenham o mesmo que os três bilhões mais pobres, e que haja produção de comida suficiente para alimentar três populações mundiais, mas ainda assim um terço passe fome ou viva com insegurança alimentar. Ser de esquerda é defender uma sociedade livre e igual, alternativa às relações desiguais no campo da cultura, política, sociedade e economia, orientando-se para a satisfação das necessidades reais das pessoas e para a criação de condições para o efetivo exercício da liberdade. Como diz um sociólogo português, “socialismo é democracia radical, sem fim”, de alta intensidade, e em todos os espaços da vida e relações sociais (raciais,' de classe, familiares, sexuais, religiosas, comunitárias), conciliando-se igualdade de condições com reconhecimento das “diferença iguais”, que não criam hierarquias sociais.


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