sexta-feira, 29 de maio de 2020

Acesso à internet como direito de tod@s: desenvolvendo Bacabal




Você já pensou como seria o isolamento social se não tivéssemos nenhum acesso à internet? Em tempos de pandemia, sua importância para nossas vidas está evidente. Mesmo antes disso tudo, muitos países já haviam reconhecido o acesso à internet como um direito fundamental, por garantir o acesso aos outros e por ter se tornado necessidade econômica, social, cultural e política em nosso tempo. É o caso da Finlândia, Estônia, Espanha, Grécia, Costa Rica, dentre outros, com muitos já tendo financiado projetos em grande escala de difusão de sinal de aberto. No Brasil, a Lei 12.965/14 (“Marco Civil da Internet”) a reconhece como “essencial ao exercício da cidadania”, podendo ser associada, por exemplo, à Lei de Acesso à Informação (12.257/11), que estabeleceu mecanismos obrigatórios de divulgação e garantia de livre acesso aos cidadãos visando maior transparência nas gestões e melhor exercício do controle social. Caminhamos para uma necessária “democracia digital”?
Pensemos em Bacabal, onde boa parte da população vive conectada, especialmente, em grupos de Whatsapp. Por meio destes, circulam informações sobre a cidade, estado e país, ações de diferentes políticos, permitindo um monitoramento de seus mandatos, bem como ofertas comerciais e possibilidades de cursos, negócios e trabalho ou, ainda, acesso a bens culturais, como músicas, artes plásticas e filmes, além do entretenimento e lazer, aproximando as pessoas. Esses exemplos evidenciam a centralidade da internet na garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais, mas também civis e políticos, aumentando a qualidade de vida. 
Contudo, nem todos podem pagar pelo acesso. Dados apontam que, em 2014, cerca de quatro bilhões de pessoas permaneciam sem acesso à internet, especialmente, nos países subdesenvolvidos, embora 83% das pessoas entrevistadas em uma pesquisa, oriundas de 24 países, responderam que o acesso à internet é um direito humano básico. No Brasil, dados de 2018 apontam que, 126,9 milhões de pessoas acessam a internet, equivalendo a 70% da população. É um avanço notável se considerarmos que, em 2008, eram 34% do total e, em 2013, 51%. Contudo, os números são menores entre a população da zona rural e as classes sociais E e D (respectivamente, 49 e 48% do total), o que mostra a desigualdade também no acesso à internet, impactando ainda mais a vida dos mais pobres, já que cada vez mais a vida em sociedade depende das ferramentas on-line.
Em escala mais ampla, a acessibilidade é assunto a ser resolvido em fóruns internacionais e dialogando com quem ainda trata do acesso como mercadoria e não direito social. Mas, na escala local, já é possível garantir o acesso irrestrito, por meio de um consórcio do poder municipal com o estadual, ou por meio de uma iniciativa público-privada, para garantir esse direito básico para a população, destinando a ele parte dos impostos.
Não é um sonho, mas se antecipar às tendências globais. Tal tema há tempos vem sendo pautado em encontros internacionais. Inclusive, o Conselho de Direitos Humanos da ONU tem um relatório (de código A/HRC/32/L.20) sobre a “promoção, proteção e fruição dos direitos humanos na internet”. Nele reconhece que a difusão de tecnologias de informação e comunicação e conectividade global possuem grande potencial de acelerar o progresso humano, desenvolvendo sociedades de conhecimento e preenchendo lacunas sociais. Ademais, a internet potencializa o direito à liberdade de expressão, assim como o potencial de desenvolvimento sustentável e inovação das sociedades. Faz-se necessário, paralelamente à garantia do acesso, uma “alfabetização digital”, que inclua também medidas para coibir a circulação de notícias falsas, discursos discriminatórios e que incitam o ódio e a violência, fortalecendo a cultura da paz e o diálogo respeitoso. Nas palavras do relator apontado pelo órgão da ONU para avaliar o tema, Frank La Rue:
Diferentemente de qualquer outro meio, a internet permite aos indivíduos procurarem, receberem e partilharem informações e ideias de todos os tipos, instantaneamente e de forma gratuita através das fronteiras nacionais. Ao expandir enormemente a capacidade dos indivíduos gozarem de seu direito à liberdade de opinião e expressão, que é um garantidor dos demais direitos humanos, a internet potencializa o desenvolvimento econômico, social e político e contribui para o progresso da humanidade como um todo. Dado que a internet se tornou uma ferramenta indispensável para efetivar uma ampla gama de direitos humanos, combater as desigualdades e acelerar o desenvolvimento e progresso humano, garantir o acesso universal deve ser uma prioridade de todos os Estados.

A opinião de La Rue é partilhada por diferentes especialistas, que enfatizam como “as tecnologias têm transformado indivíduos em uma importante fonte de informação, engajamento sociopolítico e controle do poder público, permitindo um maior empoderamento dos cidadãos para desencadearem processos de transformação social.”. Portanto, é necessário viabilizar o acesso, instrumentalizar as pessoas e valorizar a internet e redes sociais como “espaço democrático fundamental”, além de espaço de negócios e desenvolvimento pessoal, econômico, social, político e cultural. Deve ser tema escolar e comunitário, com todos e todas tendo aceso livre à internet.

Referências

EUROMONITOR. Has Internet Access Become a Basic Human Right https://blog.euromonitor.com/internet-acess-basic-human-right/    
LAVADO, Thiago. Uso da internet no Brasil cresce, e 70% da população está conectada. G1, 28 set. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2019/08/28/uso-da-internet-no-brasil-cresce-e-70percent-da-populacao-esta-conectada.ghtml.
MAGRANI, Eduardo. Democracia conectada: a internet como ferramenta de engajamento político-democrático. Curitiba: Editora Juruá, 2014.
UNITED NATIONS. General Assembly. Promotion and protection of all human rights, civil, political, economic, social and cultural rights, including the right to development. 2016.  

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