terça-feira, 2 de junho de 2020

Basta de ecocídio. Diagnóstico da situação ambiental de Bacabal



“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas"
Assim começa a Carta da Terra, esse documento internacional que apela para a proteção da natureza e de nosso planeta. Ela nos provoca para a seguinte pergunta: Nós, em Bacabal, estamos cumprindo nossa parte em proteger o meio-ambiente, que é um direito humano coletivo, uma manifestação de nossa solidariedade intergeracional?   
É fato que, no geral, há pouca ou nenhuma consciência ecológica de nossa população, o que se reflete na destruição das áreas verdes, péssima gestão do lixo e contaminação de nossos rios. Isso é reflexo de uma carência mais ampla de oportunidades socioeconômicas e culturais, falta de condições de vida adequadas e meios de compreensão, que garantam a conscientização e o respeito às medidas ambientais necessárias. O problema também é reflexo de uma cultura contemporânea global, com uma sociedade superficial em suas relações, valorizando o consumo e o consumismo, gerando uma cultura do descartável, do imediato e do insustentável.
Agravando o quadro, em Bacabal, falta uma educação ambiental adequada que, de fato, integre os sujeitos na real dimensão da catástrofe ecológica que se avizinha e, com isso, desperte o sentido de urgência em mudarmos nossas práticas e formas de estarmos no mundo e com as outras pessoas. Estamos, dia após dia, aprofundando o ecocídio, isto é, o assassinato do meio ambiente, como fica visível no tocante ao Rio Mearim, o coração de nossa cidade. 
“Rio Mearim vivo, Bacabal viva. Rio Mearim morto, Bacabal morta”, é o slogan do Fórum Ecológico de Bacabal. Lamentavelmente, a situação atual de nosso rio é terrível, com assoreamento, desmatamento da margem ciliar, irrigação clandestina e poluição, com o descarte irregular de resíduos sólidos, substâncias químicas e agrotóxicos, e uma população ribeirinha que carece de uma política habitacional consistente, que remaneje quem está em condição irregular para zonas próximas de suas fontes de subsistência, requalificando e revitalizando as margens. Tudo isso se reflete em uma péssima qualidade da água e queda substancial na quantidade da pesca, o que diz muito sobre nossa sociedade e o cuidado que estamos tendo com o meio ambiente.
Paralelamente, ainda há o problema das queimadas, que acontecem, sobretudo, no período entre agosto e novembro. É a continuidade de uma tradição agrícola, que precisa ser superada, que incide nas lavouras, beiras das estradas e/ou florestas, aumentando a poluição do ar, ocasionando problemas respiratórios e o empobrecimento do solo, além de contribuir para o aquecimento global.
Não há como ignorar também o modelo agropastoril atual, que é outro vetor que compromete a qualidade ambiental da cidade e sua sociobiodiversidade. Latifúndio, uma quase monocultura (pecuária), uso de agrotóxicos e pouquíssimo incentivo à agricultura familiar sustentável, que carece de equipamentos e políticas públicas adequadas, comprometendo a produção e mercantilização. Assim, mantém-se a dependência econômica e financeira do mercado externo, com o abastecimento da cidade/sociedade gerando grande pegada ambiental, a exemplo de ovos e frutas importadas do Ceará, quando há totais condições para produção local. Há um empobrecimento e contaminação do solo em muitas regiões. Está pendente uma reforma agrária abrangente, o que se reflete nos conflitos de terra no passado e no presente.
         Associado à agricultura está o problema do saneamento básico, que inclui, mas não se limita ao abastecimento de água e esgotamento sanitário adequados, ambos precários em nossa cidade. A política de coleta e seleção do lixo é inadequada, assim como o serviço de limpeza pública. Paralelamente, segue o abastecimento irregular da água para a agricultura e, também, nos bairros, sendo alternativa ao péssimo serviço público prestado pelo SAEE. Embora os dados oficiais apontem para 30% de esgotamento adequado, o que é muito pouco, a realidade por trás das estatísticas é bem pior, com dejetos lançados nas ruas sem tratamento algum, degradando o meio ambiente e expondo a população à contaminação. Há uma ausência de políticas públicas efetivas, sendo o SAEE mais um cabide explorado pelo sistema clientelista e patrimonialista.  
Parte da contaminação de nossas águas e solo decorre da situação irregular e ecologicamente insustentável do lixão da cidade, que polui seu entorno. Trabalhadores se encontram presentes operando a necessária separação do lixo reciclável, mas sem regulamentação, fiscalização e proteção alguma. Outra situação comprometedora é a do matadouro municipal, cuja capacidade é insuficiente e situação higiênica precária, havendo denúncias de que dejetos vêm sendo jogados no rio. Mais um agente poluente é a geração e uso de energia, que se dá, predominantemente, a partir de energias fósseis ou não limpas (usinas), havendo um monopólio da fornecedora (Equatorial/CEMAR) e dependência do consumidor de um serviço encarecido, faltando incentivo (subsídios) do poder público para a implantação de alternativas energéticas. Cabe também destacar a implantação, visivelmente irregular, de conjuntos habitacionais em locais inadequados, o que precisa ser urgentemente fiscalizado e punido.
  É um ciclo perverso da pobreza material, cultural, ambiental e espiritual, que se reflete na falta de consciência, de solidariedade intergeracional e de fiscalização e ações do poder público. O descuido com nossa Casa Comum é geral, e a crise ecológica é global. Mas, nós não só podemos como devemos fazer algo. Diagnosticar o problema é o primeiro passo, sendo necessária nossa organização e ação coletiva para apresentar e efetivar soluções.


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