Será que em Bacabal, os prefeituráveis se dedicaram a pensar a cidade e defender um programa, ou focaram em amarrações políticas? E os eleitores têm estudado propostas, analisado discursos e práticas, ou já entraram na campanha intransigentes, portanto, fechados ao convencimento pelo outro, o que é fundamental para o debate democrático?
Há
meses temos denunciado alguns fatos que respondem, em partes, a essas
perguntas. O desemprego em massa tem sido politicamente
explorado e, assim, impacta negativamente, sufoca a democracia e o debate
público, gerando venda de apoios, loteamento de cargos e autocensura.
Também temos denunciado os gastos
milionários com as campanhas, que servem
para demonstrar força e, com isso, tentar convencer o eleitorado a votar em quem,
aparentemente, tem mais chance, e que depois restituirá em triplo e,
ilegalmente, seus investidores de campanha. Essa forma de fazer campanha, demonstrando
força com custo milionário, atrofia o debate público e a própria análise e
formulação de propostas pelas candidaturas, que preferem comprar apoios. É o
que veremos agora, em números, mas antes vale lembrar que, eleição é um momento
fundamental na vida em sociedade. É quando escolhemos quem irá gerir a
“poupança coletiva” ou o orçamento municipal. Por isso, é crucial que as
campanhas se pautem por práticas legais e por propostas. Elas precisam ser
niveladas por ideias, coerentes com práticas. É muita responsabilidade eleger
prefeito e vereadores, sendo a votação para os últimos mais complexa (confira o
“voto
em lista aberta”). Afinal, são os representantes eleitos que garantirão, ou
não, que haja serviços públicos essenciais à vida e dignidade humana.
Os
dados apresentados a seguir tem por base os planos de governo oficiais. Ao
registrar sua candidatura a prefeito, obrigatoriamente, cada candidato deve
enviar um plano de governo, que fica disponível no site do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), para ampla consulta (confira links ao final). Fizemos uma
análise quantitativa desses documentos, que por si só aponta para o
atrofiamento das propostas, com uma exceção bem evidente. Infelizmente, a regra
foi a pouca dedicação à elaboração dos planos, o que se reflete nas práticas de
campanha que temos acompanhado, como a ênfase nas costuras políticas,
constituição de bases de apoio compradas, trocas de acusações pessoais e gastos vultuosos, que inflacionam e corrompem o
processo.
É
importante observar que, como o formato do documento enviado ao TSE fica a
critério de cada candidatura, padronizamos para fazer uma análise
comparativa. Afinal, as diferenças no espaçamento entre linhas, na margem do
documento e no tamanho da fonte distorcem o número de páginas de cada programa
para fins de uma análise quantitativa comparativa de quanta tinta cada um dedicou
para escrever sobre a cidade, o que se reflete no número de páginas. Para
evitar essas distorções, excetuando o título e sumário, copiamos o texto de
cada programa em um arquivo padronizado do Word, que podemos enviar aos interessados (basta colocar email nos comentários).
Os resultados mostram uma enorme discrepância no esforço de pensar a cidade, e
uma média baixíssima de páginas.
De
um total de 70 páginas do arquivo único (excluindo-se uma de apresentação), 45
são de um único plano de governo, o que destoa dos demais. No caso, Bartolomeu
dos Santos (PSOL 50) escreveu mais do que todos os demais juntos. Estes totalizam, apenas, 25
páginas. Ou seja, do total de texto escrito pelas sete candidaturas para pensar
a cidade, Bartolomeu dos Santos representa 64,28%, ou seja, quase dois terços
(2/3) do total, enquanto as demais candidaturas totalizam 35,72%, ou pouco mais
de um terço (1/3). Os resultados, por candidatura, são os seguintes:
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Essa discrepância do plano de governo de Bartolomeu dos Santos em relação aos demais é gritante, e vale detalhar como sua candidatura chegou a esse documento abrangente, de volume sete vezes e meia maior do que o do segundo candidato. Seu plano começou a ser escrito, ainda em 2019, quando havia uma decisão do PSOL de ter candidatura a prefeito, mas o nome exato permanecia incerto. A prioridade foi pensar a cidade. Assim, o plano foi fruto de um trabalho coletivo empreendido pelo partido, mas não limitado a ele, que envolveu vários sujeitos, de jovens até profissionais das mais diferentes áreas, passando por consultas a movimentos sociais. Vários especialistas foram ouvidos, foram levantados documentos de conselhos municipais, analisados documentos de outras cidades e planos de governo das principais candidaturas do PSOL por todo o país. O objetivo foi diagnosticar Bacabal, apresentar uma visão e diretrizes para cada área, bem como propostas específicas. Esse enorme trabalho intelectual foi sistematizado e publicado, gradativamente, no blog do PSOL Bacabal e pode, seguramente, servir de embasamento para a futura gestão da cidade, seja ela do PSOL ou de outra candidatura.
O próprio documento final, e a pesquisa quantitativa aqui apresentada, indiciam a enorme capacidade e mérito desse jovem partido, focado em pensar a cidade, seus problemas e soluções. Vale estudar cada um desses documentos e apoiar grupos preocupados com o debate público e com a cidade, que mantêm coerência entre o discurso e as práticas, não comprando apoios, mas conquistando-os por meio das ideias. Está evidente que, Bartolomeu dos Santos, que merece ser observado com muita atenção, não é o típico candidato que tem projeto pessoal, mas o representante de todo um grupo coeso que, discute, planeja e executa tudo de forma coletiva, dialogada e democrática.
Referências
Plano de governo de BARTOLOMEU
DOS SANTOS COSTA: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/655171/5_1600984317837.pdf
Plano de governo de LINALDO ALBINO DA SILVA: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/844199/5_1601118191625.pdf
Plano de governo de EDVAN BRANDAO DE FARIAS: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/494351/5_1600697226781.pdf
Plano de governo de EXPEDITO RODRIGUES SILVA JUNIOR: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/429603/5_1600462222697.pdf
Plano de governo de JOSÉ
DE RIBAMAR JANSEN PENHA: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/796997/5_1601048447190.pdf
Plano de governo de
WECSLEYA OLIVEIRA ABREU DOS SANTOS: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/675361/5_1600883361619.pdf
Plano de governo de BENTO VIEIRA: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2020/MA/07234/426/candidatos/325423/5_1600261234667.pdf
TSE. Relação das candidaturas a prefeito em Bacabal, 2020. http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/municipios/2020/2030402020/07234/candidatos
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