Esquerdalha, direitalha, coxinha, mortadela, esquerdopatas .... Infelizmente, essas expressões pejorativas se tornaram comuns em nosso vocabulário político. Mas, será que as pessoas estão pensando o quão ofensivo é isso? Será que elas têm uma definição sólida para fundamentar se são de direita ou de esquerda? Para tudo na vida, antes de formarmos nossas opiniões, é necessário pesquisarmos, termos melhor embasamento.
Afinal, qual a origem e o sentido dessa divisão ideológica entre esquerda e direita? Ela ainda faz sentido, ou está morta, como muitos afirmaram nos anos 1990? Para pensar essa questão polêmica, vamos recorrer a um pensador italiano, Norberto Bobbio, muito conhecido na área do direito, que apresenta uma reflexão objetiva e racional.
A divisão ideológica esquerda/direita nasceu, justamente, com o próprio pensamento democrático moderno, no século 18. Sua origem mais remota é a França, na época em que ocorreu uma revolução (1789) para garantir um governo livre, igualitário, baseado na lei, e não na vontade suprema do rei.
Após muita fome e reivindicações não atendidas, o povo tomou as ruas e as instituições, fundando um governo revolucionário. Contudo, com a sociedade dividida em classes, não poderia haver consenso. Em uma das assembleias realizadas, houve uma divergência muito grande nas posições defendidas. Nobres e outras pessoas privilegiadas, preocupadas com a continuação do processo revolucionário, sentaram-se à direita, defendendo a manutenção de muitas leis. Principalmente, aquelas que garantiam seus privilégios, como não pagar impostos. Já os representantes do povo e da burguesia, querendo mudanças radicais, que garantissem maior igualdade e liberdade, sentaram-se à esquerda. Houve quem, sentado no centro, ora se alinhava com um grupo, ora com outro. Dessa divisão espacial básica nasceu a divisão ideológica esquerda/direita, a qual podemos associar outra: progressista ou conservador. Quem, à direita, quis conservar as instituições e os privilégios do Antigo Regime, passou a ser chamado também de “conservador”. Quem, à esquerda, quis mudar a sociedade e suas instituições, fazê-las avançar, passou a se autointitular “progressista”.
A divisão ideológica esquerda/direita nasceu, justamente, com o próprio pensamento democrático moderno, no século 18. Sua origem mais remota é a França, na época em que ocorreu uma revolução (1789) para garantir um governo livre, igualitário, baseado na lei, e não na vontade suprema do rei.
Após muita fome e reivindicações não atendidas, o povo tomou as ruas e as instituições, fundando um governo revolucionário. Contudo, com a sociedade dividida em classes, não poderia haver consenso. Em uma das assembleias realizadas, houve uma divergência muito grande nas posições defendidas. Nobres e outras pessoas privilegiadas, preocupadas com a continuação do processo revolucionário, sentaram-se à direita, defendendo a manutenção de muitas leis. Principalmente, aquelas que garantiam seus privilégios, como não pagar impostos. Já os representantes do povo e da burguesia, querendo mudanças radicais, que garantissem maior igualdade e liberdade, sentaram-se à esquerda. Houve quem, sentado no centro, ora se alinhava com um grupo, ora com outro. Dessa divisão espacial básica nasceu a divisão ideológica esquerda/direita, a qual podemos associar outra: progressista ou conservador. Quem, à direita, quis conservar as instituições e os privilégios do Antigo Regime, passou a ser chamado também de “conservador”. Quem, à esquerda, quis mudar a sociedade e suas instituições, fazê-las avançar, passou a se autointitular “progressista”.
De lá para cá, essas divisões mobilizaram muitas paixões, mas também muitas reflexões. Bobbio, jurista e intelectual muito renomado, dedicou um livro inteiro ao tema, chamado “Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política”. Segundo ele, essas definições mudam de sentido no tempo, sendo posições ocupadas por um grupo ou outro. Mas, em seu núcleo duro está a invariável questão da igualdade ou desigualdade. A busca por igualdade e valorização da coletividade caracteriza as esquerdas, enquanto as direitas sustentam a naturalização da desigualdade e valorização do individualismo. Uma visão destaca que a busca pelo bem comum passa pela redução ou extinção das desigualdades sociais, que provocam injustiças. A outra enfatiza que os indivíduos, ao buscarem seus interesses próprios, indiretamente, auxiliam a coletividade, sendo as desigualdades naturais e necessárias. Haveria uma permanente competição dos indivíduos entre si, com alguns se destacando em relação a outros (pouco se fala das condições desiguais nessa disputa).
Outra divisão fundamental feita por Bobbio é entre moderados e radicais. Enquanto os primeiros se caracterizam por posições que buscam valorizar as instituições e as garantias que oferecem às pessoas, trabalhando para aprimorá-las ao longo do tempo, os segundos, mais influenciados pelas ideias em si do que pela observação das coisas, buscam romper com a realidade presente. Nesse sentido, Bobbio recorre à máxima de que os “opostos se atraem”, com os extremos dando a volta e se tocando.
Assim que, posições radicais, como o fascismo à direita e o comunismo clássico à esquerda, apresentam pontos em comum. Um exemplo são as falas de Bolsonaro, “direitista declarado”, atacando as instituições da República e querendo fechar o Congresso e o STF, o que lembra a concentração de poderes no executivo que havia na Alemanha Nazista de um lado (direita) e na União Soviética de outro (esquerda).
De todo modo, não podemos generalizar e simplificar. Esquerdas e direitas precisam ser mencionadas sempre no plural, e nem tudo que está em um polo é comunismo ou fascismo. Precisamos diferenciar e usar essas palavras com precisão, para não as banalizar. Até porque, lamentavelmente, enquanto o comunismo entrou em crise na década de 1990, o fascismo ressurgiu desde então e vem ganhando força, inclusive, no Brasil. Precisamos ter em vista que as duas grandes tradições de pensamento político, liberalismo e socialismo, enfatizando a liberdade ou a igualdade, têm outras derivações, ocupando posições mais complexas do que suas manifestações extremas.
Inclusive, tanto o liberalismo quanto o socialismo são fundamentais na concepção e garantia dos direitos humanos, no século XX, que são os direitos mínimos, necessários para se garantir a dignidade humana, o que está na base de nossa Constituição Federal de 1988. Os direitos civis e políticos (como proteção em relação ao Estado e as liberdades básicas) derivam do liberalismo. Direitos econômicos, sociais e culturais derivam do socialismo, como a existência de salário mínimo, férias, direito à saúde, educação, moradia e à cultura. A dignidade humana é um excelente meio termo e ela depende, inclusive, da existência de um meio-ambiente saudável para todas e todos, que é um direito e expressão de solidariedade intergeracional. Para garantir esse direitos fundamentais, é imprescindível colocarmos limites à mercantilização de tudo e todos, separando o que pode ou não se tornar mercadoria e o que é imprescindível para uma vida digna, portanto, é direito.
De todo modo, não podemos generalizar e simplificar. Esquerdas e direitas precisam ser mencionadas sempre no plural, e nem tudo que está em um polo é comunismo ou fascismo. Precisamos diferenciar e usar essas palavras com precisão, para não as banalizar. Até porque, lamentavelmente, enquanto o comunismo entrou em crise na década de 1990, o fascismo ressurgiu desde então e vem ganhando força, inclusive, no Brasil. Precisamos ter em vista que as duas grandes tradições de pensamento político, liberalismo e socialismo, enfatizando a liberdade ou a igualdade, têm outras derivações, ocupando posições mais complexas do que suas manifestações extremas.
Inclusive, tanto o liberalismo quanto o socialismo são fundamentais na concepção e garantia dos direitos humanos, no século XX, que são os direitos mínimos, necessários para se garantir a dignidade humana, o que está na base de nossa Constituição Federal de 1988. Os direitos civis e políticos (como proteção em relação ao Estado e as liberdades básicas) derivam do liberalismo. Direitos econômicos, sociais e culturais derivam do socialismo, como a existência de salário mínimo, férias, direito à saúde, educação, moradia e à cultura. A dignidade humana é um excelente meio termo e ela depende, inclusive, da existência de um meio-ambiente saudável para todas e todos, que é um direito e expressão de solidariedade intergeracional. Para garantir esse direitos fundamentais, é imprescindível colocarmos limites à mercantilização de tudo e todos, separando o que pode ou não se tornar mercadoria e o que é imprescindível para uma vida digna, portanto, é direito.
Em resumo, essas divisões ideológicas não são estáticas, muito menos motivo de depreciação ou demonização das diferenças. Inclusive, independentemente, devemos combater manifestações de intolerância e as posições políticas que violam a dignidade humana, colocando em risco os direitos básicos, sendo o caso do neofascismo. Não podemos simplificar o debate político, naturalizando expressões como “esquerdopata”, como se todo mundo que defendesse posições à esquerda sofresse de uma doença ou “patia” e a única posição legítima fosse à direita. Assim como a realidade é mais complexa que nossas teorias, nosso pensamento político deve ir além dessas categorias, estando permanentemente aberto a reconsiderações e ao convencimento de opiniões contrárias. É do confronto saudável e respeitoso das diferenças, a partir dos debates políticos, que amadurecemos opiniões, que testamos nossas hipóteses. Em democracias, o outro (oposição) não é um inimigo a ser combatido, exterminado, mas um sujeito necessário para aprofundar os juízos sobre a coisa pública.
Pensando em nossa realidade política, Bacabal, ainda precisamos nos concentrar na superação do sistema político arcaico, formado lá no tempo da colônia, que coloca a coisa pública como meio de enriquecimento de alguns. Estes (corruptos) gerem nossas instituições como se fossem sua propriedade privada (patrimonialismo), empregando parentes, amigos e apoiadores e, assim, garantindo apoio político (clientelismo), bem como licitações superfaturadas, direcionadas para os investidores de suas campanhas (corruptores). Não planejam o desenvolvimento, o progresso da cidade e sociedade, adotando medidas aleatórias, populistas e personalistas, como ir pessoalmente entregar alimentos para desabrigados, tirando e publicando mil fotos para se autopromover. Seu dever como gestor ou aspirante a tal não é esse, mas elaborar e implementar medidas fundadas em planejamento estratégico, abrangendo prevenção de calamidades, o desenvolvimento, geração de emprego e renda e garantia habitacional, remanejando a população ribeirinha, que habita irregularmente zonas de risco, dando um uso social às propriedades vacantes. Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência são os princípios constitucionais das gestões, o LIMPE, e não seu oposto, que é o que há um século caracteriza os governos municipais.
Enfim, é importante pesquisarmos, constantemente, e irmos nos definindo politicamente, de forma respeitosa e combatendo quem viola a dignidade humana. Mas, ainda mais importante e urgente em Bacabal é rompermos com essa política do atraso, é garantirmos uma abolição definitiva da servidão, fazendo vigorar a dignidade humana como princípio e realidade na cidade. Para isso, precisamos ir além, ao menos nesse momento, dessa divisão ideológica, pois LIMPE são princípios urgentes para fundamentar a gestão municipal, seja ela de esquerda ou direita.
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