quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Propostas para desenvolvimento sustentável em Bacabal




Dois caminhos para garantir o desenvolvimento sustentável de Bacabal são a agricultura familiar e a agroecologia. Mas, quais propostas de ação mais específicas emanam dessas vertentes? Já tanto versamos sobre esses caminhos quanto mencionamos essas ações voltadas a “um novo rural em Bacabal”, que agora detalharemos. 
Primeiramente, é fundamental garantir ampla e permanente assistência técnica aos produtores rurais por meio da constituição de uma equipe técnica, com cronograma de ação e visitação e critérios bem definidos. Seu propósito é auxiliar no desenvolvimento das propriedades familiares e, deste modo, contribuir com respostas para os problemas enfrentados, ampliando sua produtividade e lucros, diminuindo custos e produzindo melhorias das condições naturais de produção.
Outra frente de ação da equipe técnica é implementar projetos voltados à melhoria da produção agrícola, considerando para tanto os modelo e as culturas, seus aspectos limitantes e aqueles que representam oportunidades de maior rentabilidade, superando os entraves e intensificando os fatores motivadores. Paralelamente, cabe à equipe, em parceria com os produtores rurais e urbanos e demais pastas, buscar alternativas multissetoriais para agregar valor à produção, projetando no mercado produtos beneficiados na própria cidade, para gerar postos de trabalho e elevado rendimento a todos envolvidos, de forma colaborativa, auxiliando também na apresentação e divulgação e encaixe na cadeia produtiva e de consumo.
Um terceiro ponto que destacamos é empoderar os produtores, investir em sua autonomia, integrá-los na gestão e garantir o entendimento das instruções técnicas passadas, cuidando para que a informação chegue de forma clara e simplificada e que tenham canais permanentes para sanar dúvidas e buscar apoio e soluções. Com as comunidades empoderadas e organizadas, os dados sobre o rural levantado e a equipe técnica constituída, outra ação é garantir máquinas (como tratores, colheitadeiras, caminhões, etc.) aos povoados, em conformidade com um calendário definido a partir da participação social e de indicadores objetivos, ao invés da usual abordagem paternalista e clientelista. Assim, o trabalho será otimizado e a produção melhor escoada, prioritariamente, abastecendo o urbano.
Algumas técnicas que podem ser avaliadas e implementadas pelos produtores, assessorados pela equipe municipal, como sistemas agrícolas consorciados e sistemas agroflorestais. Os primeiros ocorrem quando duas ou mais culturas estão ocupando o mesmo espaço agrícola, paralelamente. Temos como exemplo o produtor que pode realizar um sistema de consórcio com o plantio do feijão nas entrelinhas do milho, o que é bastante comum nas áreas de agricultura familiar. Destaca-se que os sistemas consorciados podem estar inseridos na classificação dos sistemas de sucessão ou rotação de culturas. Quanto ao estabelecimento de sistemas agroflorestais, eles constituem um agrossistema como ordenamento da floresta plantada com o propósito de produzir alimento, madeira, fibra, produtos medicinais etc. Reúne um conjunto de práticas sustentáveis que ocorre com o uso da terra e com a combinação de espécies arbóreas com plantas agrícolas de cultivo anual e semi-perenes e/ou ainda com inclusão de animais. Isso já vendo sendo feito, com sucesso, nas várias Escolas Família Agrícola espalhadas pelo Maranhão.
Paralelamente aos sistemas agrícolas consorciados e aos sistemas agroflorestais, outras duas alternativas são o cultivo em aléias e o Sistema de Plantio Direto (SPD). A primeira é uma técnica de grande utilidade com o proposito de melhorar os solos pobres, que consiste no plantio de árvores em fileiras com um certo espaçamento entre si, preparado para o plantio das culturas agrícolas, logo que iniciarem as primeiras chuvas. Este sistema tem como principal objetivo a incorporação de matéria orgânica ao solo para disponibilizar nutrientes, o que é denominado de adubação verde. Neste sistema usa-se, geralmente, espécies de leguminosas devido à elevada capacidade de fixação de nitrogênio e grande produção de biomassa. Há podas periódicas com o objetivo de, pela decomposição da fitomassa proveniente, fornecer adubo orgânico ao solo das áreas com cultivo agrícola.
Já o SPD é um sistema de manejo do solo, no qual a palha (como é denominada as folhagens resultantes do cultivo e os demais restos culturais) fica na superfície do solo. Portanto, não ocorre o revolvimento do solo entre a colheita e o plantio do cultivo seguinte. Isto significa que as operações de preparo do solo são eliminadas e a palhada é mantida intacta sobre o solo no período anterior e após ao plantio. O SPD também realiza a rotação de culturas.
Perpassa todos esses sistemas e técnicas a demanda por uma agricultura e vida sustentável, equilibrando a necessidade dos cultivos por recursos naturais, como solo e água, além de fertilizantes e seleção de plantas e de animais, de modo a não impactar negativamente o ecossistema e evitar o surgimento de pragas, doenças, ervas ou plantas controladas por agrotóxicos, mantendo a independência dos produtores e pluralidade de suas sementes, ao invés do especismo e monopólio das multinacionais. Se é necessário buscar o desenvolvimento, intensificando a produção, é igualmente fundamental ter a clareza dos limites e evitar as ameaças aos sistemas naturais, mantendo a responsabilidade socioambiental e a estabilidade dos ecossistemas. Nesse sentido, a preferência recai sobre a compostagem e o uso de biofertilizantes, bioeinsticidas e reutilização dos resíduos agrícolas, temas estes a serem devidamente abordados pela equipe técnica junto aos produtores.
Quanto à compostagem é um processo biológico que promove e acelera a decomposição do material orgânico, resultando em um produto final que é o composto orgânico, utilizado como adubo, que recupera os nutrientes dos resíduos os leva de volta ao ciclo natural, enriquecendo o solo e o melhorando para o cultivo. Os biofertilizantes são compostos biologicamente ativos, que resultam da fermentação, gerada pelos chamados micro-organismos eficientes (EM), que ocorre em meio líquido de resíduos orgânicos tanto de origem animal como vegetal. Já sobre os bioeinsticidas, a proposta é realizar o controle biológico, combatendo pragas e doenças agrícolas com o uso da própria natureza, como inimigos naturais que podem ser macrobiológicos (insetos parasitoides e ácaros predadores) e microbiológicos (fungos, bactérias, vírus e nematoides). O objetivo é reduzir o mínimo, se não for possível eliminar, o uso de agrotóxico, que quando for indispensável, deve ser aplicado sob orientação, controle e fiscalização rigorosa, de modo a reduzir custos e evitar a contaminação ambiental e dos alimentos. Cabe socializar o conhecimento e incentivar a pesquisa dos diversos insetos, fungos, bactérias e plantas eficazes no combate a pragas, que não provocam danos às lavouras.
     Em suma, expusemos um conjunto de técnicas fundadas no capital humano, administrativo e social das comunidades rurais e do município, capazes de fortalecer a economia local de modo sustentável, pautando-se por um novo modelo de produção e um novo caminho de desenvolvimento rural. A implementação em cada local varia conforme suas especificidades, a serem levantadas, mapeadas e discutidas junto às comunidades envolvidas. Dados e indicadores são fundamentais, assim como uma base holística.

        Referências

AGROMOVE. Controle Biológico: uma alternativa para o manejo de pragas e doenças. Disponível em< https://blog.agromove.com.br/controle-biologico-alternativa-para-manejo-pragas-doencas/ > Acesso em: nov. 2019.

ADAPAR. Orientações aos agricultores com relação ao Uso dos Agrotóxicos .Disponível em< https://blog.agromove.com.br/controle-biologico-alternativa-para-manejo-pragas-doencas/ > Acesso em: nov. 2019.
FONTENELLE, M. R. et.al. Biofertilizante Hortbio: propriedades agronômicas e instruções para o uso. Embrapa Hortaliças-Circular Técnica. INFOTECA-E, 2017.
MMA. Ministério do meio Ambiente. Compostagem. Disponível em< https://www.mma.gov.br/informma/item/7594-compostagem > Acesso em: nov. 2019.

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