Dois caminhos para
garantir o desenvolvimento sustentável de Bacabal são a agricultura familiar e
a agroecologia. Mas, quais propostas de ação mais específicas emanam dessas
vertentes? Já tanto versamos sobre esses caminhos quanto mencionamos essas
ações voltadas a “um novo rural em Bacabal”, que agora detalharemos.
Primeiramente, é
fundamental garantir ampla e permanente assistência
técnica aos produtores rurais por meio da constituição de uma equipe
técnica, com cronograma de ação e visitação e critérios bem definidos. Seu
propósito é auxiliar no desenvolvimento das propriedades familiares e, deste
modo, contribuir com respostas para os problemas enfrentados, ampliando sua
produtividade e lucros, diminuindo custos e produzindo melhorias das condições
naturais de produção.
Outra frente de ação da
equipe técnica é implementar projetos voltados à melhoria da produção agrícola,
considerando para tanto os modelo e as culturas, seus aspectos limitantes e
aqueles que representam oportunidades de maior rentabilidade, superando os
entraves e intensificando os fatores motivadores. Paralelamente, cabe à equipe,
em parceria com os produtores rurais e urbanos e demais pastas, buscar
alternativas multissetoriais para agregar valor à produção, projetando no
mercado produtos beneficiados na própria cidade, para gerar postos de trabalho
e elevado rendimento a todos envolvidos, de forma colaborativa, auxiliando
também na apresentação e divulgação e encaixe na cadeia produtiva e de consumo.
Um terceiro ponto que
destacamos é empoderar os produtores, investir em sua autonomia, integrá-los na
gestão e garantir o entendimento das instruções técnicas passadas, cuidando
para que a informação chegue de forma clara e simplificada e que tenham canais
permanentes para sanar dúvidas e buscar apoio e soluções. Com
as comunidades empoderadas e organizadas, os dados sobre o rural levantado e a
equipe técnica constituída, outra ação é garantir máquinas (como tratores,
colheitadeiras, caminhões, etc.) aos povoados, em conformidade com
um calendário definido a partir da participação social e de indicadores
objetivos, ao invés da usual abordagem paternalista
e clientelista. Assim, o trabalho será otimizado e a produção melhor
escoada, prioritariamente, abastecendo o urbano.
Algumas técnicas que podem ser avaliadas e implementadas pelos
produtores, assessorados pela equipe municipal, como sistemas agrícolas consorciados e sistemas agroflorestais. Os
primeiros ocorrem quando duas ou mais culturas estão ocupando o mesmo espaço agrícola,
paralelamente. Temos como exemplo o produtor que pode realizar um sistema de consórcio
com o plantio do feijão nas entrelinhas do milho, o que é bastante comum nas áreas
de agricultura familiar. Destaca-se que os sistemas consorciados podem estar
inseridos na classificação dos sistemas de sucessão ou rotação de culturas.
Quanto ao estabelecimento de sistemas
agroflorestais, eles constituem
um agrossistema como ordenamento da floresta plantada com o propósito de produzir
alimento, madeira, fibra, produtos medicinais etc. Reúne um conjunto de
práticas sustentáveis que ocorre com o uso da terra e com a combinação de
espécies arbóreas com plantas agrícolas de cultivo anual e semi-perenes e/ou ainda
com inclusão de animais. Isso já vendo sendo feito, com sucesso, nas várias
Escolas Família Agrícola espalhadas pelo Maranhão.
Paralelamente aos sistemas
agrícolas consorciados e aos sistemas agroflorestais, outras duas alternativas
são o cultivo em aléias e
o Sistema de Plantio Direto (SPD). A
primeira é uma técnica de grande utilidade com o proposito de melhorar os solos
pobres, que consiste no plantio de árvores em fileiras com um certo espaçamento
entre si, preparado para o plantio das culturas agrícolas, logo que iniciarem
as primeiras chuvas. Este sistema tem como principal objetivo a incorporação de
matéria orgânica ao solo para disponibilizar nutrientes, o que é denominado de adubação
verde. Neste sistema usa-se, geralmente, espécies de leguminosas devido à
elevada capacidade de fixação de nitrogênio e grande produção de biomassa. Há
podas periódicas com o objetivo de, pela decomposição da fitomassa proveniente,
fornecer adubo orgânico ao solo das áreas com cultivo agrícola.
Já o SPD é um sistema
de manejo do solo, no qual a palha (como é denominada as folhagens resultantes
do cultivo e os demais restos culturais) fica na superfície do solo. Portanto,
não ocorre o revolvimento do solo entre a colheita e o plantio do cultivo
seguinte. Isto significa que as operações de preparo do solo são eliminadas e a
palhada é mantida intacta sobre o solo no período anterior e após ao plantio. O
SPD também realiza a rotação de culturas.
Perpassa todos esses
sistemas e técnicas a demanda por uma agricultura e vida sustentável,
equilibrando a necessidade dos cultivos por recursos naturais, como solo e
água, além de fertilizantes e seleção de plantas e de animais, de modo a não
impactar negativamente o ecossistema e evitar o surgimento de pragas, doenças,
ervas ou plantas controladas por agrotóxicos, mantendo a independência dos
produtores e pluralidade de suas sementes, ao invés do especismo e monopólio das
multinacionais. Se é necessário buscar o desenvolvimento, intensificando a
produção, é igualmente fundamental ter a clareza dos limites e evitar as ameaças
aos sistemas naturais, mantendo a responsabilidade
socioambiental e a estabilidade dos ecossistemas. Nesse sentido, a
preferência recai sobre a compostagem e o uso de biofertilizantes,
bioeinsticidas e reutilização dos resíduos agrícolas, temas estes a serem
devidamente abordados pela equipe técnica junto aos produtores.
Quanto à compostagem é
um processo biológico que promove e acelera a decomposição do material
orgânico, resultando em um produto final que é o composto orgânico, utilizado
como adubo, que recupera os nutrientes dos resíduos os leva de volta ao ciclo
natural, enriquecendo o solo e o melhorando para o cultivo. Os biofertilizantes
são compostos biologicamente ativos, que resultam da fermentação, gerada pelos
chamados micro-organismos eficientes (EM), que ocorre em meio líquido de
resíduos orgânicos tanto de origem animal como vegetal. Já sobre os bioeinsticidas,
a proposta é realizar o controle biológico, combatendo pragas e doenças
agrícolas com o uso da própria natureza, como inimigos naturais que podem ser
macrobiológicos (insetos parasitoides e ácaros predadores) e microbiológicos
(fungos, bactérias, vírus e nematoides). O objetivo é reduzir o mínimo, se não for
possível eliminar, o uso de agrotóxico, que quando for indispensável, deve ser aplicado
sob orientação, controle e fiscalização rigorosa, de modo a reduzir custos e
evitar a contaminação ambiental e dos alimentos. Cabe socializar o conhecimento
e incentivar a pesquisa dos diversos insetos, fungos, bactérias e plantas
eficazes no combate a pragas, que não provocam danos às lavouras.
Em
suma, expusemos um conjunto de técnicas fundadas no capital humano,
administrativo e social das comunidades rurais e do município, capazes de
fortalecer a economia local de modo sustentável, pautando-se por um novo modelo
de produção e um novo caminho de desenvolvimento rural. A implementação em cada
local varia conforme suas especificidades, a serem levantadas, mapeadas e
discutidas junto às comunidades envolvidas. Dados
e indicadores são fundamentais, assim como uma base holística.
Referências
AGROMOVE. Controle
Biológico: uma alternativa para o manejo de pragas e doenças. Disponível em<
https://blog.agromove.com.br/controle-biologico-alternativa-para-manejo-pragas-doencas/
> Acesso em: nov. 2019.
ADAPAR. Orientações aos
agricultores com relação ao Uso dos Agrotóxicos .Disponível em< https://blog.agromove.com.br/controle-biologico-alternativa-para-manejo-pragas-doencas/
> Acesso em: nov. 2019.
FONTENELLE, M. R.
et.al. Biofertilizante Hortbio: propriedades agronômicas e instruções para o
uso. Embrapa Hortaliças-Circular Técnica. INFOTECA-E, 2017.
MMA. Ministério do meio
Ambiente. Compostagem. Disponível em< https://www.mma.gov.br/informma/item/7594-compostagem
> Acesso em: nov. 2019.
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