segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Agricultura familiar em Bacabal: caminho para o desenvolvimento sustentável



          Um modelo de produção viável aos agricultores familiares não deve estar pautado apenas pela modernização do processo produtivo. Deve valorizar a experiência, os saberes tradicionais e a realidade ambiental local, fundamentando aí as políticas públicas para o meio rural. É necessária uma gestão participativa, integrando as comunidades rurais ao poder público. Isso vale, especialmente, para aquelas e aqueles que habitam as regiões mais pobres deste país, como o Médio Mearim. 
Os atores do campo precisam protagonizar o planejamento da produção do seu espaço, acompanhando e participando de todas as etapas. O desenvolvimento participativo da agricultura familiar aponta os caminhos para garantir a segurança alimentar no campo e também da cidade. Desse modo, o processo produtivo familiar é redimensionado e integrado, considerando suas potencialidades e capacidade de organização.
Portanto, a proposta acertada de desenvolvimento rural sustentável depende da agricultura familiar. Esta, por sua vez, para se viabilizar necessita enfrentar limitações e entraves históricos, como a falta de subsídio ou a impossibilidade de muitos e muitas acessarem a terra e explorarem esse e outros recursos naturais, dado a estrutura fundiária extremamente concentradora, típica da realidade brasileira.
Assim, faz-se necessário enfrentar a sujeição da terra pelo capital e o modelo agropecuário hegemônico, que concentra a renda e as propriedades rurais nas mãos de poucos, amplia desigualdades, empobrece e contamina o solo, restringe a produção e a biodiversidade e expulsa os agricultores para a cidade (êxodo rural), ou os sujeita à dependência e exploração.
Por mais pequenas propriedades e famílias assentadas e produtivas e menos latifúndio predatório ou improdutivo. Dividir melhor e viabilizar o acesso e permanência autônoma na terra é garantir justiça e solidariedade social, resolvendo também parte dos problemas urbanos, como crescimento desordenado e favelização.
Desse modo, quando tratamos de desenvolvimento rural não estamos nos restringindo só ao que pode ser considerado estritamente rural. Trata-se de promover mudanças positivas na escala da vida social do território bacabalense como um todo, integrando melhor o rural e o urbano, com suas formas de sociabilidade e produtividade.
          A importância da agricultura familiar na produção de alimentos representa uma significativa contribuição à segurança alimentar das famílias brasileiras. Mas a permanência das famílias no campo está ligada à manutenção de condições para continuarem a trabalhar em suas pequenas propriedades com investimentos que propiciem condições dignas de trabalho e de vida, incentivos que reduzam os custos com a produção e a viabilização da comercialização de seus produtos com preços justos
         É fato que, nas últimas duas décadas, a agricultura familiar passou a ocupar um espaço mais significativo na sociedade e isso teve reflexos diretos na vida de milhares de trabalhadores. O estabelecimento de políticas para o campo, como o Programa Nacional da Agricultura Familir (PRONAF) garantiu maior assistência e oportunidade, redimensionando o protagonismo social do trabalhador rural familiar com uma maior participação na economia do país e com melhorias em suas condições de vida. Assim, a produção agrícola familiar vem atingido sua função, produzindo alimentos para o consumo e fornecendo uma diversificada quantidade para o mercado interno, contribuindo para segurança alimentar.
Contudo, a produção familiar ainda precisa enfrentar diversos problemas, como o processo de modernização agrícola das grandes propriedades, gerando pressão por parte dos grandes produtores, a redução da sucessão do agricultor e carência da implementação de mais políticas públicas. Ademais, a concentração de terras e a enorme desigualdade social também no campo estão entre os fatores responsáveis pelo atraso e injustiça sistemática no espaço rural brasileiro. Ainda está pendente uma reforma agrária abrangente, que democratize o acesso à terra, modificando a estrutura fundiária concentrada e excludente.
É preciso investir no social e no local, criar condições dignas de trabalho e de vida para as pessoas. É preciso valorizar o saber tradicional local e considerar as especificidades, as fragilidades e vulnerabilidades de cada ecossistema para que se possam adotar práticas que considerem as condições ambientais.
       No âmbito de um desenvolvimento local/regional deve-se dar mais atenção à agricultura familiar, não apenas com a visão de uma agricultura de subsistência, mas ter um olhar sobre esta a partir de seu potencial produtivo, e voltado para abastecer o mercado. É uma modalidade de produção que tem um importante papel na produção e distribuição de alimentos e que, portanto deve ser reconhecida tanto pelo setor público quanto pelo privado.
     Em Bacabal, essa modalidade de agricultura é atividade que pode apresentar elevado nível de desenvolvimento, sendo preciso valorizá-la, investir em infraestrutura de escoamento e fortalecê-la com a orientação técnica necessária, o uso de recursos e formação para que os trabalhadores rurais envolvidos possam melhorar a qualidade da produção para comercialização. É importante também considerar a agricultura familiar como estratégia de combate à pobreza no meio rural, como atividade de geração de renda e emprego garantindo a permanência do homem no campo. Ao invés da ocupação espontânea do Mercado Central, e falta de acesso aos demais centros de abastecimento, cabe valorizar esses sujeitos garantindo um espaço adequado para que vendam seus produtos, bem como a interlocução necessária com os grandes mercados, para que comprem esses produtos, fortalecendo a economia local. 


Referências

ASSIS, R. L. de. Desenvolvimento rural sustentável no Brasil: perspectivas a partir da integração de ações públicas e privadas com base na agroecologia. Economia  Aplicada,n.10, 2006.
CAPORAL, F. R. Extensão rural e agroecologia: temas sobre um novo desenvolvimento rural, necessário e possível. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2007.
KAGEYAMA, A. Desenvolvimento rural: conceito e medida. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 21, n. 3, p. 379-408, 2004.
LUCENA, C. S. de S.; LIMA, F. E. de S.; PEREIRA, C. da S.A agricultura familiar na comunidade quilombola do  Pêga, em Porto Alegre – RN.  Geotemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v.6, n.1, p.51-66, 2016.
NAVARRO, Z. Desenvolvimento rural no Brasil: os limites do passado e os caminhos do futuro. Estudos avançados 15 (43), p. 83-100, 2001.
SOGLIO, F. D. e KUBO, R. R. (Orgs). Desenvolvimento, agricultura e sustentabilidade. Coordenado pela SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016.

Um comentário:

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